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O Carro-de-Bois do Sinhozão

VEÍCULOS E TRANSPORTES
Autor: Valmir Simões

O Carro-de-Bois do Sinhozão

 

Ainda garoto, com idade em torno de 10 anos, eu morava vizinho à casa do Sinhozão e lembro-me que, devido a uma chuvarada intensa, o muro de adobo que dividia os quintais não resistiu e foi ao chão, ficando, desta forma, sem divisão entre uma propriedade e outra, facilitando o trânsito da criançada de um lado para o outro. Eu era tratado como pessoa da família deles que sempre foram bons vizinhos que costumavam trazer cestas de frutas da Serra de Itiúba e tinham o prazer de dividir conosco.

Logo cedinho eu ia até o curral que ficava praticamente no fundo da casa e tomava leite de vaca, tirado na hora. Na casa tinha grande movimento de vaqueiros e agregados, principalmente nos finais de semana. Aos sábados, precisamente, o vaqueiro Tetero tinha um tratamento todo especial. Por diversas vezes eu via o Sinhozão sentado em uma grande espreguiçadeira com forro de lona, ouvindo o seu vaqueiro falar sobre a situação do gado de suas propriedades. No quintal, embaixo de uma árvore, ficavam vários arreios de animal como: rédeas feitas de crina de cavalo, cangalhas, etc. e, no chão, uma enorme pedra de amolar onde os agregados afiavam suas ferramentas: estrovengas, foices, machados, facões, etc.

Certa vez observei o Tetero com uma pedra moendo pedaços de carvão e misturando com sebo de boi e colocando em uma lata. Sem entender do que se tratava, perguntei e fui informado de que era para colocar no eixo do carro de boi para dar um rangido em forma de música, que os bois e o povo adoravam, pois carro de boi sem aquele rangido era mesmo que nada, não tinha graça. O carro de boi saia pela manhã e à tardinha vinha carregado de lenha e rangindo sem parar, trazendo o Tetero em pé sobre um dos varões do carro, com uma enorme vara, com um ferrão na ponta. As imensas rodas de madeira forrada com chapas de ferro, deixavam sua marca no chão e os pobres animais, atrelados com correias e cangalhas de madeira presas no pescoço, faziam “finca-pé” para arrastar aquele peso descomunal. Quanto sofrimento! Acredito que atualmente, na nossa cidade, este meio de transporte de carga não mais exista.  

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