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Serra-Velha, Tradição Controversa
SERRA-VELHA
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Durante a Semana Santa, uma tradição intrigante, embora controversa, conhecida como "Serra Velha" era realizada na cidade, destacando os contrastes entre a cultura local e as normas sociais da época. A prática acontecia na madrugada de quinta para sexta-feira da Paixão, quando o motor Caterpillar que fornecia energia elétrica à cidade era desligado, após às 22h, e as luzes da cidade eram apagadas, mergulhando tudo na escuridão.
Nesse cenário, um grupo de rapazes percorria as ruas munido de instrumentos peculiares: chifres de boi, utilizados como cornetas, serrotes e latas velhas. Juntos, eles criavam um verdadeiro pandemônio sonoro. O objetivo era claro: perturbar casais que viviam juntos sem estarem casados legalmente, uma situação ainda vista com preconceito. O barulho vinha acompanhado de um sermão "moralizador", proferido por um "conselheiro" do grupo, carregado de ironias e advertências sobre a regularização da união conjugal.
Alguns dos “serradores” mais ousados ultrapassavam limites, chegando a amarrar portas e janelas das residências com arames de aço, aprisionando os moradores e os forçando a suportar a barulheira e os sermões. A pressão social criada por essa prática era tamanha que muitos casais optavam por deixar a cidade nesse período para escapar da humilhação. Curiosamente, houve quem enfrentasse a situação com humor: um dos casais que também era alvo da "brincadeira" decidiu juntar-se aos "serradores", participando ativamente da tradição e tirando proveito de uma circunstância potencialmente adversa.
Do lado da lei, o delegado Sr. Tibério, com o auxílio do cabo Zé de Souza e de um único soldado, se esforçava para conter os excessos da prática. No entanto, a presença deles nas ruas apenas aumentava o entusiasmo dos participantes, que viam na perseguição policial um elemento adicional de emoção à "serra".
Há ainda um toque de mistério na tradição: o financiador da brincadeira era um comerciante sério e respeitado na comunidade, conhecido por sua responsabilidade. Apesar de apoiar secretamente a “Serra Velha”, ele nunca se expunha, e ninguém jamais suspeitava de sua participação.
Essa prática, que mistura folclore, transgressão e moralidade, revela muito sobre as dinâmicas sociais e os valores de uma época. Embora polêmica, é uma lembrança vívida de como a cultura popular pode refletir, desafiar e até mesmo satirizar os costumes estabelecidos.
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