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Não Voltaremos

SAUDADE E LEMBRANÇAS
Autor: Egnaldo Paixão

Não Voltaremos

 

Amigo Fernando, Não voltaremos a comer piabas no açude. Aquela moça, lembra? Com certeza, com a ação e implacabilidade do tempo, já não é mais a mesma.

Não voltaremos a cair de bicicleta, sexta-feira santa, nas proximidades do Senhor Morto e nós, mortos de vinho.

Não voltaremos a ouvir a risada do Aurélio no Bar do Carlos.

O Teia dando uma surra na bicicleta numa noite de carnaval.

Não voltaremos a ficar intrigados com o Folião Mascarado que chegava pelo Trem da Leste, domingo de Carnaval pela manhã e regressava à noite, bêbado, tuberculoso e emparedado em sua mortalha invariavelmente branca.

Não voltaremos a subir a Serra do Cruzeiro, nós os "penitentes da pinga braba".

Não voltaremos a ouvir os lamentos do "Dazo Grande", chorando bêbado porque dizia ser "o mais desgraçado dos homens".

Não voltaremos a ver Penicilina e o Americano, o Circo do Pedro Coruja e a Maria Pureza com suas pernas morenas e que de tão bem torneadas, levantou o tesão de uma cidade inteira.

Não veremos mais o Cine-Itiúba, a voz do Isnar, a cachaça do Enterrado, Hugo tocando rumbas e boleros, com três meses de trompete.

O Paôco, o Berega, a Cantu, o Calanguinho, completando a paisagem diária de nossa terra morena e meiga.

Não veremos o luar vazio da Laje Grande e a sua poesia cheia de silêncio e solidão.

Não veremos nunca os amigos, Biléu, Duquinha, Manoel Carlos, tantos...

Não voltaremos a ouvir a Rádio Cultural, você apaixonado, a jovem morena tentando suicídio e a Rádio tocando "Espera-me no céu..."

Não voltaremos a viver aquele tempo mágico, a não ser mexendo com a memória, porque tudo lá está, guardando uma rosa amarela, que os anos vão desgastando, desgastando, desgastando até o dia em que seremos também memória para os que virão.

Se os que virão depois, saberão dar valor a isso tudo, são eles que irão dizer...

O mundo está ficando cada dia mais seco e guardar uma rosa amarela na memória e no coração, quem sabe, de agora em diante, não seja um exercício cada vez mais impossível.

 

 

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