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O nome era Rádio Cultural, e não Rádio Cultura. Embora alguns questionassem sua nomenclatura, os dicionários confirmam que “cultural” significa “relativo à cultura”, justificando plenamente o título da “voz mais potente da cidade”, como os orgulhosos locutores gostavam de dizer. Este serviço de alto-falantes surgiu assim que a cidade recebeu luz elétrica, marcando uma nova era de comunicação e entretenimento.

Desde sua fundação, diversos locutores deixaram suas marcas na Rádio, criando memórias inesquecíveis entre os ouvintes. Os primeiros foram Bertinho, Osvaldo Campos, Hildete Rodrigues e Armando do João do Rio. Mais tarde, vieram outros, como Hugo, Manoel Carlos, Clóvis Carvalho, Rogério, eu, Valmir, cada um contribuindo com seu estilo e talento para manter viva a tradição.

A programação começava pontualmente às 18h, no momento em que os motores que forneciam energia elétrica à cidade eram acionados, e seguia até às 21h. A abertura do dia era emblemática: iniciava-se com a música “Ave-Maria”, tocada em um disco, seguida por mensagens inspiradoras, cuidadosamente selecionadas ou redigidas por Srs. Sandoval Manciola ou Antônio Rodrigues. Essa tradição simbolizava uma conexão entre a rádio e a comunidade, envolvida em um clima de espiritualidade e proximidade.

Aos domingos, um dos momentos mais aguardados era o programa de calouros. Ele trazia diversão e emoção aos participantes e à plateia. Os calouros eram submetidos à prova do cesto de palha, pendurado sobre suas cabeças, controlado pelo locutor por meio de um cordão. Caso errassem, o cordão era solto, e o cesto caía, arrancando risadas do público. Aos vencedores, o prêmio era modesto, mas digno: um sabonete Lever ou Vale-Quanto-Pesa, itens bastante valorizados na época.

Durante as tradicionais festas de largo, a Rádio Cultural se tornava ainda mais especial. Nessas ocasiões, eram organizados bailes para o pessoal da roça, animados ao som de baião, xaxado e xote. O Sr. Robério, um colaborador entusiasta, arrecadava contribuições entre os participantes. Com seu jeito persuasivo, costumava argumentar: “O dinheiro é para Nossa Senhora, você não vai negar?”. Esse apelo funcionava, e assim, recursos eram obtidos para manter as atividades da Rádio em funcionamento.

Outra fonte de renda vinha dos ouvintes, que pagavam pequenas quantias para que suas músicas favoritas fossem dedicadas às pessoas indicadas por eles. Era uma forma simples, mas significativa, de interação entre a comunidade e a Rádio. Um dia especial para todos na Rádio Cultural era o aniversário do Sr. José Simões, que alugava toda a programação e dedicava as músicas a si mesmo. Para a Rádio, isso significava um alívio financeiro, e para o locutor Manoel Carlos, uma oportunidade de garantir um extra para umas cervejinhas no Bar do Zé Dantas, estrategicamente localizado na parte de baixo do prédio onde a Rádio operava.

A Rádio Cultural foi muito mais que uma simples emissora de alto-falantes. Ela foi um símbolo de criatividade, união e cultura que marcou a vida de todos na cidade, trazendo alegria e deixando um legado de histórias que ainda ecoam na memória dos que tiveram a sorte de vivenciar essa época.