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Seu Acelino: O Marceneiro e Contador de Histórias
PROFISSÕES E PROFISSIONAIS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Moreno, corpulento, forte e incansavelmente trabalhador—assim era "Seu" Acelino, vizinho da casa dos meus pais na pequena rua que começava na Casa da Paróquia, onde moravam o Padre José e sua tia Vava, e terminava justamente na casa dele. Do outro lado, nossos vizinhos eram o casal João Mutti e a professora Lígia, com seus quatro filhos: Ivan, Maurício, Taciano e César.
Apaixonado por filmes musicais, tinha uma explicação curiosa para seu fascínio: "Para apreciar as moças rodando... rodando... até as pernas aparecerem...", dizia ele.
O único problema era que não sabia ler, e como os filmes eram legendados, Dona Iaiá (Ercília), sua esposa, assumia a função de narradora, lendo as legendas em voz alta. O hábito, no entanto, incomodava os espectadores vizinhos, e por isso ninguém se sentava perto deles—ficavam separados por um grande espaço vazio na sala do cinema.
À noite, religiosamente, Seu Acelino colocava sua cadeira na calçada, sempre com o encosto virado para frente, e iniciava suas longas narrativas para quem quisesse ouvir. O início era sempre o mesmo: "Ora, senhor...", e, então, desfiava histórias sobre a difícil conquista de sua única namorada, que viria a se tornar sua esposa; sobre sua chegada a Itiúba; e sobre a grande mata virgem que existia no município naquela época.
Falava de Dona Iaiá, a quem amava profundamente, mas não sem uma ressalva, que ficou registrada em sua famosa frase: "Ela é branca, é bonita, cozinha como ninguém, mas é bruta..."
Além de contador de histórias, era um exímio marceneiro. Sua oficina, instalada nos fundos da casa, abrigava serrotes enormes e ferramentas curiosas, com as quais transformava troncos de madeira em tábuas e outros materiais utilizados em suas obras. Seu trabalho era robusto e duradouro: construía carrinhos-de-mão, escadas, mesas, cancelas—todos feitos com madeiras grossas e pesadas, que garantiam resistência, mas exigiam grande esforço para serem movimentados.
Seus carrinhos-de-mão eram tão pesados que apenas Ló e seu filho Adelino, por serem muito fortes, conseguiam utilizá-los. A escada que ele fez para o tanque do banheiro de nossa casa nunca foi movimentada, tamanha a densidade da madeira empregada.
Cumpridor rigoroso de horários, era disciplinado ao extremo. Meu primo Edvaldo Pinto costumava observá-lo do alto do sobrado do pai, Belarmino, enquanto ele trabalhava na reforma da Igreja Católica.
Certa vez, Edvaldo viu Seu Acelino cortando um tronco de árvore com o machado. No instante exato em que o sino da igreja tocou a primeira das seis badaladas da Ave-Maria, ele estava com o machado levantado. Nem sequer finalizou o golpe—simplesmente recolheu o instrumento, guardou suas ferramentas e se preparou para ir embora.
Perguntado por que não deu a última batida na madeira antes de ir, ele apenas apontou para o sino e, sem dizer palavra, tomou o caminho da escada do corte, indo direto para casa.
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