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Dr. Nogueira

PROFISSÕES E PROFISSIONAIS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho

Dr. Nogueira

 

Ouvimos, muitas vezes, que nossa Itiúba é uma terra abençoada por Deus. Faz parte do semiárido nordestino, sem padecer das calamidades sofridas por outros municípios que também integram a sofrida zona das secas. Todos nós itiubenses, em qualquer parte, quando sentimos o “cheiro de chuva”, logo vem a lembrança do aroma que emana das nossas serras, caatingas e pindobas, logo após as trovoadas. Talvez seja esta ligação involuntária, que não tem explicação para aqueles que não nasceram no sertão, que faz com que não esqueçamos nossas origens. Outra bênção é acolher com carinho, festa e amizade as pessoas que escolhem Itiúba para trabalhar ou visitar. Acreditamos ter sido outra dádiva, quando surgiu, sem contar história e sem nenhuma explicação, no povoado de Bela Vista (Covas), por volta do ano de 1950, para exercer a profissão de médico, o Dr. Manoel Nogueira, profissional experiente, bondoso, com forte personalidade. Chegou e ficou. Alugou casa e instalou o seu consultório. Certamente não estava bem informado sobre as possibilidades econômicas do povoado. Tudo faz crer que não ganhava o suficiente para cobrir as suas despesas. Desistiu de clinicar no povoado, pois a população não tinha como pagar a consulta que, por sinal, era 80% do preço cobrado por seus colegas no vizinho município de Senhor do Bonfim. Sem outra alternativa mudou-se com sua mulher, D. Julieta, e seu filho adotivo, Carlinhos, para a sede do município. Montou o seu consultório na Rua dos Artistas, onde atendia das 8h às 11h. Saía para almoçar, puxava seu ronco, e retornava às 15h. Clinicava até bem tarde. Quando verificava que não havia mais ninguém, cuidadosamente arrumava sua maleta, fechava ele mesmo as portas e janelas da casa e voltava ao lar. Tinha consciência das dificuldades que seus pacientes teriam para encontrar o remédio certo a preço acessível na Farmácia de D. Ziru ou na outra de D. Irene e do seu filho Soares. Sabia que receitar era seu dever. Quando o paciente voltava e contava-lhe que o dinheiro deu apenas para comprar um remédio e ficou sem comprar os outros, devolvia o valor recebido da consulta e assim resolvia o problema.


Não tinha vícios. Não fumava nem bebia. Em Itiúba, porém, o jogo de gamão é uma tradição que passa de pai para filho. Ele não resistiu e aprendeu este jogo que não tem apostas, mas depende de sorte e técnica ao mesmo tempo. Não era um “pixote”, porém sempre jogou como um principiante. Daí ter apanhado muito do Tiberinho, seu parceiro habitual. Comentava-se, na época, que o Dr. Nogueira era um jogador de gamão esforçado e tinha muita sorte. Os seus adversários conheciam o seu lado bom, confiante, mas nem todos eram honestos com ele no jogo.
Ficou na lembrança dos afeiçoados do gamão como um inocente sortudo, que não ganhava de ninguém.


Depois de muito tempo, surgiram diversas versões sobre sua escolha para exercer a profissão de médico no povoado de Covas e posteriormente em Itiúba. Uns diziam que ele largara a mulher e fugiu com a outra. Falavam que se formou em medicina após padecer de uma doença que era considerada incurável. Sempre havia alguém fazendo suas conjecturas sobre este assunto. O que ficou provado é que era militar, serviu ao Exército e estudava nas horas de folga. Quando terminou a Faculdade, coincidiu que completara seu tempo de serviço e passou para a reserva remunerada. Com soldo pequeno e com a firme disposição de ajudar os mais necessitados, escolheu nosso município. Conta-se, também, que conheceu em Salvador, onde morava antes, alguém da família Pitanga. Esta versão deve ser verdade, pois, quando faleceu, foi sepultado no jazigo mantido no cemitério local pelos descendentes do Sr. Rogério Bento Pitanga.

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