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Zacarias

PESSOAS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Zacarias

 

 

Zacarias era o Chefe da Estação da Leste, onde as Marias-Fumaça chegavam e saiam trazendo ou levando passageiros e mercadorias. A Estação da Leste, às vezes chamada apenas de Estação ou de Leste, era um prédio construído em 1887, obedecendo a uma planta padronizada que lhe dava a forma de um retângulo e era um pouco elevada do chão para facilitar o acesso aos trens. Naquela época o prédio era muito cuidado e bem conservado, e tinha que ser, pois era um dos locais mais importantes da cidade. O Zacarias, acredito, pois estou escrevendo agora sem fazer nenhuma pesquisa sobre o assunto, era originário do Povoado de Cacimbas, localidade pertencente ao município e que ficava bem próxima de Itiúba. A estrada de ferro também passava por lá e existia uma pequena estação ferroviária onde alguns aprendizes de telégrafo se destacaram e chegaram a se tornar chefes de estações de maior porte, como a de Itiúba e esse deve ter sido o caso dele.

 

Quando o Zacarias era o Chefe da Estação eu era o Responsável pela Junta de Serviço militar, localizada no prédio da Prefeitura e que tinha entrada independente, pelo lado do Tanque da Nação. A Junta era bem estruturada, com móveis conservados, Bandeira Brasileira para o juramento à Bandeira pelos Reservistas de 3.ª. Categoria que lá recebiam os seus certificados. Uma velha máquina de escrever que funcionava perfeitamente, estava sempre a minha disposição. Eu era um ótimo datilógrafo, pois treinei por muitos anos, numa velha Remington do escritório do meu pai, que era, também, o meu exigente "professor particular" de datilografia - como foi de todos os seus filhos - e graças a ele e as suas repetidas lições (qwert/poiuy), tornei-me um datilógrafo que não precisava olhar para o teclado para escrever tudo rapidamente e sem erros. 

 

O Zacarias era, também, vereador e a Câmera funcionava num salão da Prefeitura que ficava ao lado da Junta Militar. Existia até uma porta de comunicação entre as duas repartições. Ele via como eu fazia os serviços datilográficos da Junta Militar, alinhados e sem erros, gostou e me pediu para datilografar alguns trabalhos relacionados às suas atividades na Estação da Leste. Quando ele trouxe o material que precisava ser datilografado, eu achei tudo muito organizado, escrito com uma letra bonita e bem legível. Cheguei até a dizer que estava tão bom que nem precisava ser datilografado, mas ele disse querer melhorar cada vez mais o seu serviço e que achava os trabalhos datilografados mais perfeitos e bonitos.  Datilografei os documentos dele naquele mesmo dia e quando entreguei, ele olhou, conferiu e disse: - Era assim mesmo que eu queria. A partir daquele dia eu passei a ser o datilógrafo "oficial" dos seus trabalhos. Embora eu não cobrasse, ele me pagava muito bem.

 

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