Blog

Vavá Brandão

PESSOAS
Autor: Max Brandão Cirne

Vavá Brandão

 

 

Quem conhece Itiúba não pode desconhecer um homem simples e simpático de apelido e nome, Vavá Brandão. Pessoalmente conheci-o quando atendendo a sua esposa finda, pois já nos deixou, resolveu juntar malas e cuias, se aboletou num caminhão vindo se estabelecer em Itiúba, terra da sua amada, aí fixando residência e se viciando em Itiúba, pois que Itiúba é altamente viciante, na sua residência num elevado, bem no alto de um dos cabeços de um morro dos tantos que cercam e circundam a terrinha qual medieval muro de proteção.          Estreitamos a amizade em 1964, quando saí do seminário de Apuipucos aonde estudei, em Recife e me aboletei, por uns tempos, na casa do meu pai. Pois bem, um dia batendo pés e estragando sapatos, cheguei a prefeitura Municipal quando avistei, numa das salas, muitos, mas muitos livros no IBGE que também lá funcionava e, das abarrotadas estantes de livros, emergiu a figura simpática do senhor Vavá Brandão que se responsabilizava por aqueles mais finos acepipes e iguarias que açambarcavam sabores e gostos, acepipes e comilanças, a fartar, impecavelmente organizados nas estantes e prateleiras, em forma de livros. Livros e mais livros, a mão-cheia, como diria o poeta Olavo Bilac. O amável, fino, nobre e altamente cavalheiresco Vavá Brandão acolheu-me e convidou-me a adentrar portas do saber e do conhecimento, eu menino de 17 anos, explicando-me, solicitamente, que tais livros e acervo eram para consulta e manuseio do povo, mas que infelizmente as pessoas quase não os liam.         

Emprestou-me logo um livro, sob recomendação de apurada leitura. Se não me engano  - Os Miseráveis - de Victor Hugo. Levei-o para casa e li pressurosa e avidamente em menos de oito dias as suas mais de 1000 páginas, embevecido e atordoado com a beleza, talvez, da leitura da minha primeira literatura internacional, ao cabo do tempo devolvendo-o e levando outros e mais outros quase consumindo aquele acervo maravilhoso do IBGE. Seu Vavá quase tem uma síncope em ver um menino quase com tanta fome de saber e conhecer. Resulta que nos aproximamos respeitosamente de sorte que a soma de anos de amizade e camaradagem ultrapassa os 50 anos de pura amizade. Infelizmente a última vez em que estivemos juntos foi em sua residência, seu castelo medievalesco desafiando lei da gravidade sobre aquele platô do morro encimado de amor e carisma cuja massa foi alicerçada na argamassa do amor e da compreensão que o encontrei choroso e lânguido a despedir-se da sua amada esposa e companheira que tantos filhos lhe dera, que jazia morta, tirando-nos assim, merecida e justificadamente, a oportunidade de desenvolvermos longos e sadios bate-papos que nos caracterizaria quando nos víamos, nem pude, nem me achei no direito de monopolizar suas atenções que se voltavam para as pessoas que iam prestar seu último adeus e preito de gratidão à amada e denodada que partiu. O agente do IBGE perdia ali sua esposa e musa,  e eu na qualidade de velho amigo, e, ele compadre dos meus pais, não pudemos deixá-lo sem a minha presença e dos verdadeiros amigos, ajudando-o a depositar o inerte corpo da sua companheira de tantos anos, levando-o, apenas os restos mortais ao cemitério local. Ali depositado o féretro desejamos o nosso "requienscat in pace" na esperança que a todos nos move até o dia do juízo. Quanto ao agente aposentado do IBGE qual jequitibá dos sertões, lá se encontra plantado e dando folhagem, auscultando apenas os ecos de um mundo sem leitura que perpassa cego e alheio aos acontecimentos. Ave, pois, meu amigo Vavá Brandão. E, posso continuar dizendo: muto obrigado, camarada.

Comentários


(0) Comentários...