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Piroca do Lino

PESSOAS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho

Piroca do Lino

 

 

Nossa Itiúba, do início do Século passado até a descoberta dos antibióticos, ganhou fama como refúgio para os doentes da tísica (tuberculose pulmonar) que aqui desembarcavam desenganados pelos médicos. Talvez, juntos, o ar puro das serras, o cheiro da chuva e a tranquilidade tenham contribuído para esse milagre.

Outro mistério é a longevidade de muitos de nossos conterrâneos. Temos constatado que muitos homens e mulheres passaram dos cem anos com saúde e disposição.

Vamos mencionar, apenas como exemplo, um poeta nas horas vagas, criador e vaqueiro, o cidadão conhecido como Piroca do Lino, que completará 100 anos de vida em julho próximo. Fomos visitar este amigo e parente na sua residência e encontramos uma pessoa alegre, sem rancor, que lembra da sua mocidade com riqueza de detalhes. Através da Ong Serra de Itiúba vamos providenciar as publicações dos seus “ABC” (literatura de cordel) e outras anotações, para homenagear este autor desconhecido para os jovens, porém, muito conhecido dos mais velhos.

Neste feliz encontro falamos sobre as origens das famílias itiubenses. Tomamos conhecimento de que o nosso pai, Joviniano Carvalho, o Jove, quando solteiro tinha o apelido de “Caixeiro do Belarmino”. Caixeiro, para quem desconhece o termo, era o empregado que atendia os fregueses no balcão dos armazéns. São pequenos fatos, que confirmam a lucidez, a inteligência e a capacidade deste sertanejo destemido e possuidor de uma mente privilegiada. Que tenha muitos anos de vida para narrar as verdadeiras histórias da nossa Terra.

Em suas lembranças, mencionou outro episódio de uma época contraditória. Disse que trabalhou como procurador e vaqueiro durante 22 anos para um bom patrão, mas, ao pedir as contas, recebeu como indenização um prato de medida, um facão sem bainha e uma raspadeira de cavalo (escova de pelos duros). Contudo, afirma que o homem era apenas canguinho. Rindo sempre, citou que também conheceu o homem mais forte que nasceu até hoje neste município, cujo nome era André Mondrongo, que desafiava qualquer um do seu tamanho a carregar no ombro dois sacos de 60 quilos de mamona numa distância de 500 metros. Esse grandalhão era gentil com todos e justificava dizendo que não podia brigar no tapa, pois o seu murro podia desconjuntar o pescoço do rival.

Para completar, afirmou que a família Pinto é oriunda da região de Sento Sé, que fica do lado direito do Rio São Francisco. Que os antigos conversavam em surdina para que os meninos não ouvissem ou soubessem as razões dessa fuga em massa para nosso município. Supõe que houve alguma encrenca por lá e o grupo formado por diversas famílias escolheu a confluência dos rios Itapicuru e Cariacá para todos fixarem residências no hoje Povoado Itapicuru, distante da sede do município, 6 km.

Dados interessantes assim, não podem se perder no tempo. Precisamos cuidar melhor do passado e resgatar a história itiubense para não desaparecer esmagada pela comunicação eletrônica que invade os lares com novelas mirabolantes. O nosso passado não é coisa dos velhos. É da nossa origem que nasceu o orgulho de ser itiubense.

 

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