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Os Dois Joões de Itiúba

PESSOAS
Autor: Max Brandão Cirne

Os Dois Joões de Itiúba

 

Um deles tinha por sobrenome Leite. Era chamado de João do Leite. Seu pai era um negro retinto como a cor da mais profunda noite, de família muito boa e educada. Conheci o seu pai bem velhinho. Família muito decente e de aceitação na sociedade local. O outro, também João, mas de sobrenome “do Rio”. Não sei se mero apelido dado por imitação a um João do Rio que foi excelente cronista da vida do Rio de janeiro. Este João do Rio de Itiúba era um senhor branco de cabelos escorridos, charuto mordido e amassado pendendo dia e noite da boca, andando com dificuldades e comprando e revendendo ovos e galinhas caipiras, morava com o seu filho, de nome Armando do João do Rio, ao que se saiba, num casarão da Rua da Estação. Dizia-se que seu pai, João do Rio, fora, no passado, um homem de muitas posses e riquezas esbanjadas com a mulherada da vida. Mulheres! Sempre as mulheres! O Armando do João do Rio vez ou outra desaparecia de Itiúba e se escafedia, ao que se sabia, para a capital do Salvador. Cabo de alguns meses retornava sempre vestindo um impecável terno branco e sapatos igualmente brancos e limpos. Afundava na cachaçaria e vivia largado pelas ruas da cidade e nos becos das mariposas da vida de todos nós em certo tempo da vida. Não trabalhava. Era o mais total “bom "vivant”. Não namorava, pois, as moças da cidade o reputavam indigno. Vivia sempre às turras com o seu velho pai, ao total abandono social e moral. Armando Rios hoje é um espectro desaparecido que passou pela vida boemia e irresponsável, provavelmente falecido em algum beco da existência, desaparecendo na dobra da esquina que não espera passagem para os mortais que seguem por ela. O João do leite desapareceu após cortar o pescoço de um homem com uma navalhada, quase o degolando e desapareceu possivelmente internado em algum manicômio de Salvador. Dois destinos selados pela cachaça.

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