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O Teia

PESSOAS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Meu primo Edmar era o proprietário da Loja dos Tecidos, que ficava no centro da cidade. Embora o tecido fosse a principal mercadoria da loja, lá ele vendia de tudo, desde espelhos e vidros cortados na hora até enfeites para caixão de defuntos. Quando ele mesmo atendia às freguesas, parecia que ia colocar a loja inteira no balcão. Trazia peças e mais peças de tecido, às vezes para vender apenas um metro.

Edmar era um homem muito trabalhador, mas também era muito brincalhão. Quando chegava o carnaval, logo cedo ele aparecia vestido de mulher e só deixava a praça quando não aguentava mais ficar em pé. Gostava de chamar os outros de "Teia" e, por isso, ele mesmo ganhou esse apelido. Quando queria dizer que uma pessoa estava namorando exageradamente, ele dizia que ela estava "escovando".

Certa vez eu vinha voltando de um baile carnavalesco noturno da Rua 2 de Julho, quando ouvi um barulho de coisas jogadas com violência no chão e a voz do Edmar xingando alguém. Pensei: "O Edmar está batendo em alguém, e é mulher porque os nomes feios que ele pronuncia estão no feminino." Fui chegando devagarzinho, pensando no que eu poderia fazer para evitar aquela tragédia, quando a surpresa surgiu diante dos meus olhos. Ele xingava e batia na sua bicicleta porque, bêbado como estava, não conseguia manter-se nela nem por um segundo.