Meu pai sempre criou cachorros, sempre em duplas, que se tornaram seus fiéis e inseparáveis companheiros nas caçadas, seja sob o sol do dia ou no mistério da noite. Os amigos dele, donos de cadelas, faziam questão de presenteá-lo com filhotes ainda bem pequenos, e meu pai, sempre criterioso, só escolhia novos moradores para nossa casa após identificar certos sinais nos filhotes. Segundo ele, esses sinais indicavam se o cachorro seria um bom farejador e caçador, embora eu já não me recorde quais eram esses critérios ou o que significavam.
Mesmo antes de conhecerem o espaço que seria seu novo lar, os cães recebiam nomes que os acompanhariam por toda a vida. Tivemos cachorros com nomes marcantes como Lince, Buldogue, Mimoso e até Pelé. Este último nome foi escolhido por meu irmão Herbinho, que, encantado com a agilidade do cãozinho recém-chegado enquanto brincava com uma bolinha de borracha na calçada da nossa casa, encontrou semelhanças com a habilidade, destreza e inteligência de Pelé, o jovem talento do futebol brasileiro que começava a despontar como promessa de muitos gols e vitórias para a seleção.
Entretanto, meu pai tinha uma filosofia clara: "Não se deve dar nome de gente a animais". Por conta disso, ele rejeitou a sugestão e tentou propor outro nome. No entanto, o nome escolhido por Herbinho pegou, e o cachorro foi chamado de Pelé para sempre.
Um dos últimos companheiros caninos do meu pai foi o Mimoso, um cão que ele admirava profundamente e ao qual dedicava palavras de elogio e carinho. Já enfrentando problemas de saúde próprios da idade, meu pai viu-se comovido quando o fiel Mimoso adoeceu. Quando o Mimoso morreu, nós, preocupados com a saúde e a reação do nosso pai, decidimos dar a notícia no local onde ele trabalhava, com todo o cuidado e cautela possíveis. Mas, para nossa surpresa, nosso pai, mesmo amando muito seus cães, sabia aceitar o inevitável. Com serenidade, ele respondeu:
— Então vamos tomar as providências necessárias. Antes ele do que eu.
Assim era meu pai — firme diante da vida, sempre racional, mas sem jamais perder o carinho por aqueles que fizeram parte de sua história.
