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Mestre Bugué
PESSOAS
Autor: Max Brandão Cirne
Quem viveu em Itiúba, sabe de quem estamos falando. Quem é “menino” como este aposentado imerecidamente vivendo ainda, conheceu ou ouviu falar no maestro Bugué. Moreno de bigodes, forte e espadaúdo, sem uma perna, perdida em acidente de trem quando trabalhava na construção da estrada de ferro do antigo Leste Brasileiro, sabe que faço referência ao maestro Bugué. Exímio saxofonista, “seo” Bugué como o chamávamos, fundou e era proprietário do “jazz band”, que embalou os sonhos e devaneios nos bailes do nosso tempo em Itiúba e adjacências. Conheci-o muito. Compadre dos meus pais, foi ele nosso vizinho por muitos anos. Seus filhos, na figura de Zito, que se mandou para São Paulo ainda jovem; Cecília, que vive em Itiúba, foram meus coleguinhas de escola no Goes Calmon; Buquezinho é vigilante no banco do Brasil, agência de Itiúba, tendo sido, mais recentemente, meu aluno no Colégio Ary Silva, quando da minha recente passagem por Itiúba de 2005 a 2009. Eram maravilhosas as aulas de música que recebi do “seo” Bugué, impulsionado por aquele desejo de aprender breves, semibreves, colcheias, cifrões, chaves de fá e de sol que a minha ausente falta de aptidão musical me indicou, mas que não fui adiante.
O jazz band do “seo” Bugué fazia a festa. Marchinhas marciais, dobrados, polcas, maxixes e outros gêneros enchiam os ares de Itiúba quando ainda existiam coretos, os indefectíveis coretos da minha infância, hoje desaparecidos sem esperanças de voltarem um dia. Primeira aula falava sobre a música “como sendo a arte de transmitir os sentimentos através dos sons”. Aprendi essa verdade, e mais algumas cifras musicais, porém fui desencorajado pelos preconceitos do meu tempo que falavam que “todo músico morria de tuberculose ou cirrose hepática provocada pela cachaça”. Desisti. Hoje existe a Escola de Música Mestre Bugué. Muito merecidamente, imortalizando o nome do velho e infatigável maestro. No ano de 2009, antes de deixar a cidade, vi, ensaiando no centro da cidade, sob a batuta do seu atual maestro Egui Paixão, um bocado de pirralhos e juvenis executando os mais variados instrumentos musicais, em músicas divinas, repetindo, talvez ao gosto do antigo maestro Bugué, os mesmos sons. Tive de esconder o rosto vincado e anoso que escorria lágrimas emotivas, a voz embargada, tomado da mais viva e profunda emoção. Fiquei estático e sem voz. Disfarcei as lágrimas e emoções. Mestre Bugué está vivíssimo naqueles “moleques” músicos. Alguns, não se sabe como, conseguem segurar os próprios instrumentos, sob a regência do “Maestro Eguinaldo Paixão” que foi meu colega de escola e de infância. Hoje somos e estamos uns velhões, uns sessentões e tantos, chorosos e melosos, corações meio baqueados, descompassados e fragilizados, arrítmicos que cresceram ouvindo o mais puro som da bandinha do “seo” Bugué. Uma das coisas mais vivas e impressionantes que vi em Itiúba. A cultura continua e sei que a banda faz excursões periódicas pela Bahia sob a regência competente do também excelente trompetista da minha época e geração, merecidamente seu atual maestro, Eguinaldo Paixão, que acumula advocacia e poetagem com a “arte imortal de transmitir os sons”. Melhor, ele continua fazendo com que a memória de “Mestre Bugué” continue aferrada aos nossos corações.
Viva a Escola de Música Mestre Bugué de Itiúba. Quanto ao mais, que o Senhor me permita ainda ouvir o som daquela bandinha imortalizando dores e saudades gostosas do nosso passado que não pode nem deve morrer. Que continue vivendo “Mestre Bugué” em nossos corações.
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