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0 Teia de Itiúba

PESSOAS
Autor: Max Brandão Cirne

0 Teia de Itiúba

 

Existem sujeitos que nascem com verdadeiro carisma. O “Teia” é um desses. Nascido em Itiúba, pequena cidade encravada nos sertões da Bahia, filho de um ex-prefeito, antigo coronel, prefeito por várias vezes, com curral eleitoral cativo, e, bem amarrado, era filho do senhor Belarmino Pinto de Azeredo, homem de sorriso afável, saído das caatingas para a cidadezinha, embora sendo pobrezinho, conseguiu, por essas coisas inexplicáveis, tornar-se “coronel” sertanejo e prefeito por várias legislaturas.

O “Teia” cursou o primário, e, parece que jamais saiu de Itiúba, e, com a morte do seu pai, parece ter herdado a loja de tecidos que ficava bem no centro da cidade, embora todos os seus parentes tenham saído da cidade. Casara-se ainda jovem com uma professora, filha do senhor Damasceno, moça recantada e fina educação doméstica quanto acadêmica. Com a morte do senhor Belarmino, o “Teia” continuou residindo no belo casarão da família e, ao que parece, curtia uma aposentadoria cedo e compulsória.

Era um sujeito bonachão e de sorriso largo e fácil, chegado a umas farras, mas nada que incomodasse a quem quer que seja. Montava e vivia pedalando em uma bicicleta que era pilotada por ele com duas braçadeiras amarradas às bocas da calça para evitar se enroscassem na corrente, usava óculos de aros grossos e lentes de grau profundo, aliviando sua miopia, sendo portador de um humor ferino que fazia com que todos rissem das suas piadas.

Parece que não era lá bom comerciante, terminando, ao que parece, por fechar a loja, passando-a adiante. Todos os dias o “Teia” era visto encostado em alguma parede no centro da cidade olhando o movimento, reencontrando amigos e contando suas indefectíveis piadas, embora fosse um sujeito até com certa timidez. O “Teia” foi, sem dúvida, um desses meteoritos que passaram e deixaram seu rastro de simplicidade em Itiúba.

Não sei se o “Teia” continua vivo. Se for, aquele abraço.

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