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Queixinho, O Rei da Sinuca
PERSONAGENS POPULARES E COMUNS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Todos sabiam que ele nunca trabalhava; todos sabiam que passava mais tempo nos bares com mesas de sinuca do que na casa onde morava com a mãe e uma irmã. Todos sabiam que ele era um jogador profissional de pôquer, vinte-e-um e pif-paf. Todos sabiam que não aceitava ofensas ou provocações sem reagir. Todos sabiam, mas ninguém se incomodava, porque, de um jeito ou de outro, todos gostavam do bom malandro da cidade, apelidado de Queixinho.
Queixinho era o melhor jogador de sinuca da região, um verdadeiro mestre no jogo. Ganhou inúmeros prêmios em torneios realizados em cidades próximas, consolidando sua reputação como um talento único. Um dos prêmios mais memoráveis que ele conquistou foi um taco especial, desmontável, que vinha acomodado em uma elegante caixa de madeira. Ele adorava exibir esse taco nos bares do Zé Dantas e do Carlos Pires, como um símbolo de sua habilidade e prestígio.
Era comum vê-lo "acabar a partida", como dizíamos, encaçapando todas as bolas com uma única jogada. Isso deixava seus adversários desolados, segurando o taco e torcendo para que ele errasse pelo menos uma vez—algo que quase nunca acontecia. Em Itiúba, apenas Zuca, também um grande jogador de futebol, conseguia ameaçar, ainda que de longe, o reinado de Queixinho.
Apesar de sua genialidade na sinuca, Queixinho era um malandro "bom vivedor", apaixonado por bebidas, mulheres e jogos de cartas. Essa vida de excessos fazia com que ele estivesse constantemente precisando de dinheiro. Corria até o rumor de que ele armava "combinações" com seus adversários, permitindo que ganhassem partidas para depois dividir o dinheiro das apostas feitas em seu nome.
Mesmo com suas artimanhas, Queixinho era querido por todos. Isso não o impedia, no entanto, de se envolver em desentendimentos e brigas. Uma dessas brigas aconteceu com Beijá, que saiu mal de uma disputa noturna nas proximidades da balaustrada do Tanque da Nação, terminando com duas costelas quebradas. Em outra ocasião, enfrentou três irmãos no bar do Carlos Pires e acabou com vários cortes profundos pelo corpo. Era uma noite de sábado, e eu estava na porta do cinema quando ouvi o alvoroço. Vi Queixinho sair correndo do bar, com a roupa ensanguentada, enquanto uma pessoa o perseguia. Ele correu em direção ao cinema e, no caminho, puxou uma cadeira que estava na calçada da residência do Carlos Pires. O agressor tropeçou na cadeira e caiu. Já no cinema, Queixinho pegou a pesada cadeira do porteiro, levantando-a acima da cabeça, e ficou esperando o agressor, que não apareceu mais. O farmacêutico Soares foi chamado, e Queixinho foi levado à farmácia para receber pontos e curativos.
Queixinho era o ídolo de Caciano, um louco forte e temido por todos na cidade. Caciano fazia tudo que Queixinho mandava e dizia que, na presença dele, ninguém ousaria tocar no malandro. Queixinho teve seus amores na cidade, mas não deixou filhos. Mudou-se para outra cidade da região, onde se casou (não sei se teve filhos) e, por fim, faleceu.
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