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O Zé do Quebra-Queixo

PERSONAGENS POPULARES E COMUNS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

O Zé do Quebra-Queixo

 

Há dois anos, em uma das viagens que fiz a Itiúba, reencontrei o emblemático Zé do Quebra-queixo. Lá estava ele, na Avenida Getúlio Vargas, vendendo sua famosa guloseima, exatamente como fazia há quase cinquenta anos. O quebra-queixo, feito de rapadura e coco, era cortado em pequenos pedaços com a mesma faca grande e amolada. O tabuleiro permanecia sobre a mesma armação de madeira desarmável e transportável, e os pedacinhos de papel cortados previamente continuavam sendo usados para evitar o contato direto das mãos dos fregueses com o doce. Tudo parecia intocado pelo tempo: o processo, os acessórios e, principalmente, o próprio Zé do Quebra-queixo.

Ele também não havia mudado muito. Mantinha o mesmo tipo de roupa, o mesmo chapeuzinho de couro na cabeça, o sorriso acolhedor e o jeito único de atender os fregueses que o tornaram tão querido na cidade. Ao vê-lo naquele momento, foi como se o tempo tivesse parado, trazendo de volta memórias que estavam guardadas nas profundezas da minha mente. Lembrei-me das tabelas do Cine-Itiúba penduradas nos postes da cidade, com letras enormes e tortas feitas pelo amigo Isnar, anunciando um filme de Tarzan. Lembrei-me também do Toinho Felix, Rogério, Valmir e Manoel Carlos na Rádio Cultural, com suas vozes ecoando pela cidade enquanto anunciavam os produtos da Loja Elegante do Sr. Josias Carvalho.

Naqueles instantes, parecia que os bares do Carlos Pires e do Zé Dantas ainda estavam abertos, movimentados como sempre, com pessoas conhecidas jogando sinuca e bilhar, enquanto outras se deliciavam com uma cerveja ou degustavam uma cachacinha misturada com folhas. Pareceu-me também que o próximo domingo nos reservava uma emocionante partida de futebol entre as seleções de Itiúba e Queimadas, com os craques Zuca, Boca, Toinho do Dr. Arlindo, Armando do João do Rio e Santo Amaro sentados nos bancos do Jardim da Prefeitura, planejando estratégias para garantir a vitória e alegrar o povo da cidade.

As lembranças não pararam por aí. Revivi em minha mente os animados carnavais no Clube 2 de Julho, as missas celebradas pelo Padre José e a dedicação do médico Dr. Manoel Araújo, sempre presente para atender às necessidades da comunidade.

 

Obrigado, Zé, por fazer-me recordar tanta coisa. Eu mudei muito desde aquele tempo. O Cine-Itiúba e a Rádio Cultural já não existem mais, os carnavais não são mais realizados no Clube 2 de Julho, a Loja Elegante fechou há muitos anos, os bares antigos não funcionam mais, e os craques do futebol agora são outros. O Padre José e o Dr. Manoel já foram chamados por Deus. Mas você, Zé, continua o mesmo, com seu jeito único e fazendo o mesmo trabalho que cativou gerações.

(Nota do Autor: O Zé do Quebra-Queixo morreu em 2007)

 

 

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