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O Velho Americano
PERSONAGENS POPULARES E COMUNS
Autor: Max Brandão Cirne
Conheci-o na minha adolescência. Era um negro retinto e sem sobrancelhas, costumava apontá-las dizendo ser um africano, não brasileiro, muito educado e cortês, parecia ser letrado e informado, pronunciava umas poucas palavras que na época pensávamos fosse inglês, vivia sempre maltrapilho, sujo e malcheiroso a andar lentamente, cabeça baixa, um saco às costas ou um bocapio pendurado entre os dedos e se fazia acompanhar da sua companheira de nome Celina a quem parecia devotar grande amor e camaradagem, sempre reclamando das pessoas que davam cachaça para ela aumentando a sua desdita. Dona Celina viva sempre embriagada. De andar vacilante, ostentava marcas de cicatrizes muito feias e profundas como se tivessem sido feitas à faca. Dizia ser paraibana. Cambaleante, costumava pedir esmolas estendendo mãos pequenas à caridade pública. O velho Americano não pedia. Mas não recusava quem as dava. Moravam em algum moquiço lá para as bandas da Camandaroba. Pareciam-me ser mais uns andarilhos. Não sabemos! O velho a que chamávamos Americano era carregado no sotaque que parecia de uma pessoa letrada, e, de Salvador, acentuadamente chiado e pronunciado. Como passaram e desapareceram os trens da minha mocidade cortando os sertões, assim também desapareceram na voragem e na imensidão do tempo-mundo. Nunca mais os vimos. Esquecidos ou mortos em algum lugar deste mundão de Deus, o Americano e sua companheira devem ser hoje tão apenas poeira cósmica. I
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