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O Mussolini
PERSONAGENS POPULARES E COMUNS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho
Trazido à cidade pelas mãos do Sr. João do Prado, não se tem notícia de onde nasceu ou da razão do apadrinhamento e do seu apelido. Teria mais de doze anos, suas atitudes, porém, sempre foram de uma criança brincalhona. Tudo que ele via se transformava em diversão, em especial sentar-se à beira da Estrada de Ferro que liga Salvador à região do Rio São Francisco com mais de 500 km de trilhos (atravessando a cidade de Itiúba no sentido sul-norte), para ver passar o trem de carga ou de passageiros e, ao mesmo tempo, contar quantos vagões a locomotiva puxava. Não deveria saber ler ou escrever. Tinha, por regra, pedir para qualquer pessoa que estivesse por perto que identificasse o número da velha máquina movida à lenha. Não anotava. Gravava os números na memória. Qualquer dia ou hora, até pelo apito, gritava: - Lá vem a 501 ou outra “Maria Fumaça”. Devia ter memória privilegiada para de cor saber tudo. Alguns anos atrás perguntamos aos nossos contemporâneos a razão do nome “Mussolini”. Então tomamos conhecimento de que, no fim da Segunda Guerra, ocorreu o enforcamento, pelo povo italiano, do Chefe Supremo da Itália, inconformado com a derrota do chamado Eixo Alemanha/Itália. Com sua facilidade de memorizar, sempre que alguém o admoestava nas ruas de Itiúba, sua resposta ameaçadora se transformava numa encenação pública, com gestos que reproduziam uma forca. De joelho pedia que o malvado tivesse o mesmo triste fim do General Mussolini. Como o espetáculo sempre se repetia, acredita-se ser esse o motivo do apelido. Primeiro, era engraçada a maneira de reagir, segundo, quando se sabe que o incomodado fica zangado, todos querem atanazar o pobre coitado.
Já homem, frequentava diariamente o Armazém do Banduca. Sem exigir nada, ajudava na limpeza das quarenta e tantas gaiolas de passarinhos que por lá existia. Não guardava rancor de qualquer um de nós, mas, não esquecia o mini espetáculo da forca, quando tinha conhecimento de infortúnios acontecidos àqueles que há anos criaram situações embaraçosas para ele. Parava, olhava nos olhos da pessoa e sem ódio, com a ponta do dedo indicador, procurava desenhar no ar a improvisada e imaginada forca. Sem nenhuma palavra grosseira, sorria e dizia: - Cá te espero.
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