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Manoel Pinto Primo, O Pioneiro

PERSONAGENS HISTÓRICAS
Autor: Enock da Silva Pinto

Manoel Pinto Primo, O Pioneiro

 

Em dezenove de fevereiro de mil oitocentos e noventa e cinco, nascia no Povoado de Itapicuru, que fica localizado na confluência dos rios Itapicuru-mirim e Cariacá, o cidadão Manoel Pinto Primo, filho de D. Luiza Pinto de Azeredo e irmão de D. Maria Pinto de Carvalho e Belarmino Pinto de Azeredo. Cresceram juntos e por volta do ano de 1915 fixaram residência na Vila de Itiúba, que na época integrava o Município de Queimadas. Essa dependência administrativa gerava uma situação constrangedora, pois, a Vila crescia, enquanto, a sede do Município se mantinha estável. Contudo, não tirava o estímulo e a disposição dos dois itiubenses. Acredito que essa condição despertava os sentimentos de amor dos filhos da terra, que clamavam por sua emancipação política. Certamente daí surgiram as duas vertentes diferenciadas dos irmãos Manoel e Belarmino. O segundo se estabeleceu como negociante e dividia sem tempo com a política local. O primeiro, como grande batalhador e inato empreendedor, não vacilou em projetar Itiúba em um lugar de destaque entre os seus vizinhos e foi assim que o incansável Manoel colocou em prática os seus valores individuais associados ao dom comercial e industrial. Este homem, autodidata, não fugiu ao chamamento do seu talento de pioneiro, custeando com recursos próprios as obras para dotar a cidade de energia termoelétrica, fábricas de bebidas como vinhos, aguardente e um categoria de refrigerante com gosto de cajuína, sabão, charutos, vinagre, fósforo e olarias para tijolos, ladrilhos e telhas. Esse ciclo industrial iniciou-se em 1933 e perdurou até quando ele adoeceu.

Em 1936 instalou o cinema mudo em prédio próprio construído com base numa planta projetada para atender as exigências dos espectadores de teatro e cinema, que batizou de Cine Teatro Ideal. Em 1937 trouxe para nossa cidade o cinema falado, uma novidade que poucos municípios conseguiram. Demonstração cabal que confiava no desenvolvimento do município recém-emancipado. Com o início da Segunda Guerra Mundial enfrentou com galhardia todas as dificuldades advindas em 1939, e, mesmo assim, continuou firme nos seus propósitos de homem de visão. Não esmoreceu, pois, esta palavra não passava por sua cabeça e mesmo com as dúvidas de uma época conturbada pelo iminente ingresso do Brasil no conflito mundial, prudente e gradualmente foi desativando as fábricas. Por último fechou o cinema e o teatro.

O cinema não demorou desativado. O seu sobrinho Humberto Pinto, que já despontava com dotes parecidos do seu tio-padrinho e antevendo a tentativa do senhor Almir Ferreira, que arrendara o prédio e equipamentos do cinema para soerguer a casa de espetáculos, procurou o proprietário, no caso o senhor Manoel Pinto Primo e o locatário para tocar para frente o velho e heroico CINE. Assim, nos idos de 1950 o meu primo reacendeu a tocha desta diversão singular. Reformou por fora e manteve o interior como encontrou. Com isso valorizou o ambiente que valeu o título de uma ótima e exclusiva casa apta a acolher os artistas visitantes dos dramas, comédias, cantores e cantoras tão comuns naquele tempo. Esta história desenvolvida num clima de incertezas nos faz lembrar que Itiúba passou por períodos difíceis, como a cidade às escuras, quando a velha usina termoelétrica não produzia energia suficiente para atender a demanda.

Em 1945 a Prefeitura Municipal celebrou convênio com o estado da Bahia e na Fazenda Experimental de Ovinos e Caprinos, conhecida como Fazenda do Estado, instalou um potente motor-gerador movido a óleo diesel, esforço conjunto de pessoas dinâmicas como os senhores Manoel Pinto, Manoel Barbosa de Souza e Belarmino Azeredo. São fatos que mudaram o destino de Itiúba. Devemos aos três cidadãos leais defensores dos interesses do nosso município, essa atitude. O ciclo da energia elétrica cara e incerta findou em setembro de 1977, com a chegada da linha de transmissão de alta voltagem vinda da Usina de Paulo Afonso. Com energia de baixo custo e quase sem falha no seu fornecimento, os distritos e povoados também foram servidos e alinhados com o progresso iniciado com o trabalho e pioneirismo do inesquecível Manoel Pinto, meu pai.

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