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Zona Litigiosa

ORIGENS, HISTÓRIA E PROGRESSO
Autor: Humberto Pinto de Carvalho

Zona Litigiosa

 

Tentarei sensibilizar todos que tomaram ou não conhecimento das manobras absurdas ocorridas há alguns anos para prejudicar a nossa maravilhosa Itiúba. 

Começo falando de dois irmãos que, sem pensar em dinheiro, foram destaques no seu tempo. Primeiro falarei do José Rios, conhecido e admirado como Zezinho Cego. Embora deficiente visual, era prestativo e cobrava barato por seus serviços. Toda população de Itiúba, quer na sede, quer na zona rural, confiava e entregava a ele suas máquinas de costuras, seus moinhos de carne, suas vitrolas e até cadeados sem chaves para consertos e reformas. Era especialista nos consertos das famosas lamparinas “Petromax” que, à noite, iluminavam os lares itiubenses e eram movidas a gasolina ou a querosene sob pressão. Sem enxergar, vagarosamente, o Zezinho fabricava pequenas peças, lubrificava, substituía o material que julgava imprestável e, num passe de mágica, aprontava tudo e mandava entregar ao seu dono. A outra pessoa de quem quero falar é o seu irmão João do Rio. Acho que o “Rio” era uma corruptela do seu verdadeiro sobrenome: Rios. Lembro, porém, de ter ouvido falar que ele era assim conhecido por sua notável vigilância ao Rio Itapicuru-Açu, a linha demarcatória problemática entre os municípios de Itiúba e Queimadas. Certos foram os seus inestimáveis esforços para ajudar, a partir de 1935, o recém-criado município de Itiúba a manter a sua área territorial, quando da decretação da emancipação administrativa. Como sabemos, os dois municípios se limitavam no Rio Itapicuru-Açu. Também é sabido que, desde aquela época, os queimadenses não ficaram satisfeitos quando perderam a Vila de Itiúba dos seus domínios políticos. Resmungavam que a área-limite ficava muito próxima da sua cidade sede. É a partir daí que entra o trabalho do Sr. João do Rio, que passou a residir no Povoado de Jacurici, localizado entre a sede de Itiúba e o Rio Itapicuru-Açu. Defendia a nossa integridade territorial e tornou-se um vigilante valioso para o primeiro Prefeito de Itiúba, Sr. Belarmino Pinto de Azeredo. Qualquer tentativa de invasão era por ele rechaçada em tempo. Morou anos no Povoado. Na sede do novo município de Itiúba montou a primeira pensão, que ficava na Rua da Estação. Lá se hospedavam os caixeiros-viajantes e quem vinha de trem e não tinha parente a esperá-lo na estação.

Descobriu, no rebanho que criava na caatinga do Jacurici, um bode que era hermafrodito. Era macho, mas dava leite. Causou na ocasião grande impacto na sociedade local e regional. Não havia na época as facilidades para obter informações como hoje. Lembro que ele viajou com o famoso bode para a capital e os médicos veterinários da Universidade Federal revelaram o segredo patológico do animal. 

São passagens da vida desses dois cidadãos, cada um com sua sabedoria e seus dotes, que temos de divulgá-las. Sabemos que relatamos curtos períodos dos dois, mas, acreditamos que outros lembrarão do Zezinho e do João do Rio e escreverão outros episódios. Outro que deve ser lembrado é o Sr. Nouzinho Carvalho, que assumiu o posto de responsável político do Povoado de Jacurici, quando o Sr. João do Rio foi morar em definitivo na sede do município. Fica a promessa de que pesquisarei e narrarei os efeitos do Nouzinho Carvalho e outros que se destacaram e, sem dúvida, honraram as suas descendências. Quando esse grande itiubense escolheu o Povoado de Jacurici como sua morada, surgiu uma nova fase e um novo estilo de vigiar nossos limites territoriais, cunhando e desenvolvendo métodos eficazes. . 

Quando falo com o verbo no passado dizendo que o limite entre Itiúba e Queimadas era no rio Itapicuru-Açu, necessários se tornam alguns esclarecimentos para aqueles que desconhecem essa encrenca que surgiu desde emancipação do nosso município. Não conhecemos os conchavos políticos que redundaram na alteração do marco divisor que vinha desde a criação do município de Itiúba, mas, nos idos de 1950/1960, o Governo do estado da Bahia, por Decreto, alterou o limite territorial e Itiúba perdeu parte das suas terras que ficavam na margem esquerda do rio, exatamente no local disputado com Queimadas. Ouvimos, há anos, que tudo ocorreu quando o Estado da Bahia, através da Secretaria de Agricultura, escolheu aquela área para instalar projetos de irrigação e seleção de gado vacum para produção de leite. 

Que falta nos fez um destemido vigilante como o Sr. João do Rio. Hoje lamentamos o ocorrido há quarenta ou cinquenta anos. Mais uma razão para que o jovem itiubense, fique atento e não descontraia agora e sempre, pois nunca faltará alguém disposto a tomar de Itiúba as suas maravilhosas serras que mostram, a cada curva, paisagens deslumbrantes, com o seu valioso patrimônio ambiental, histórico, geológico e religioso. Potencial turístico que precisa ser protegido. Muitos itiubenses nem sequer tem informações sobre o que tudo isto representa para um município pobre como o nosso, vez que a Câmara de Vereadores e os Prefeitos também, até hoje, não encontram tempo, para apreciar as belezas naturais destas dádivas da natureza. Itiúba continua linda, esta é outra verdade que precisamos preservar, com ou sem o apoio daqueles que menosprezam esta riqueza.

 

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