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O povoamento de Itiúba teve início com a chegada dos primeiros portugueses, oriundos da Casa da Torre, que se estabeleceram na Serra de Itiúba. Essa casa, que viria a ser o embrião de um grande morgado de estilo feudal, surgiu na capitania da Bahia ainda no século XVI e se expandiu, ao longo de 250 anos e sucessivas gerações, por mais de 400 léguas na Região Nordeste do Brasil. Como era costume na época, logo foi construída a Capela São Gonçalo do Amarante, destinada à devoção dos familiares e à catequese dos poucos indígenas que permaneceram após a chegada dos novos “donos” das terras.

No sopé da Serra de Itiúba, encontrava-se a Fazenda Salgado, pertencente ao Sr. João Gomes da Silva, onde, mais tarde, formou-se o povoado que originou a Itiúba atual. O processo de povoação ganhou impulso com a chegada dos trilhos da estrada de ferro, em 1887. A primeira casa construída, por volta de 1870, permanece em pé, bem conservada e habitada, apesar dos seus quase 140 anos, graças aos cuidados dos descendentes de D. Yaiá Bebé.

Entre 1880 e 1890, na nova povoação, ergueu-se o prédio da Igreja Católica. Embora o templo fosse pequeno e possuísse acomodações modestas, ele atendia à demanda de uma população em crescimento. Em 1886, o Padre Firmino de Souza Estrela foi nomeado o primeiro pároco. Com reparos esporádicos, o edifício permaneceu praticamente inalterado até 1936, quando uma grande reforma transformou sua aparência na forma que hoje conhecemos e admiramos. Graças à experiência adquirida em várias construções, o próspero comerciante Sr. José Feliz Cruz foi escolhido para chefiar as obras, que ocorreram um ano após a elevação da Vila de Itiúba à categoria de cidade – um processo que se deu com o desmembramento de Queimadas, sob a gestão do prefeito nomeado, Sr. Belarmino Pinto de Azeredo.

Mais recentemente, foram realizadas pequenas reformas que permitiram a conclusão do coro alto, previsto no projeto original, e a construção de um anexo ou sacristia. Esse espaço passou a abrigar os paramentos sacerdotais e as alfaias litúrgicas, além de servir como local de paramento para os sacerdotes antes das missas.

Para complementar este relato, transcrevo a seguir alguns relatos extraídos de textos escritos por itiubenses, publicados neste site:

> “Em Itiúba, até a década de 1960, a Sexta-feira Santa ou Sexta-feira da Paixão era tão respeitada pela população que, nesse dia, praticamente nada funcionava na cidade. O comércio não abria, nem mesmo a única farmácia de D. Ziru; os trens não apitavam, os carros não buzinavam e os sinos da igreja, da estação férrea e do cemitério permaneciam silenciosos. Ninguém, nem mesmo os vaqueiros, ousava utilizar suas montarias; não se ordenava o gado para a ordenha, e fogos de artifício não eram queimados. Os alto-falantes da Rádio Cultural e do Cine Itiúba ficavam mudos, e, embora a filarmônica “2 de Julho” acompanhasse a tradicional procissão com seus músicos fardados e instrumentos, desfilava em silêncio, em respeito ao Senhor Morto. Nesse dia, todas as crianças eram levadas às casas de seus padrinhos para pedir bênçãos.” > (Hugo P. Carvalho)

> “Durante os 40 dias de quaresma que antecedem a Sexta-feira da Paixão, Itiúba transformava-se em um verdadeiro templo ao ar livre. As missas eram celebradas diariamente, sempre às 19 horas, com a presença maciça daquele povo fiel a Deus. No momento em que o sino da igreja cessava suas badaladas para anunciar a realização da santa missa, as matracas assumiam o lugar, num gesto de reverência diante daquele período sublime. Os trens que chegavam à estação paravam de apitar, os poucos veículos cessavam as buzinas e grande parte da população abria mão da carne na alimentação. Os mais humildes compravam pescados vindos dos açudes do Coité e de Camandaroba, na feira livre; enquanto os mais abastados adquiriam o famoso bacalhau norueguês na barraca do Abelinho do Alto – instalada em frente ao saudoso “Bar Central”. Na Sexta-feira da Paixão, uma multidão, liderada pelo vigário da Paróquia, reunia-se no largo da Matriz e, em seguida, seguia a Via Sacra, que recontava as 15 estações, desde a condenação à morte até a ressurreição de Jesus Cristo. As católicas mais fervorosas dispunham uma pequena mesa, ornamentada com a imagem de Jesus, diante de suas casas, e, em cada estação, a multidão parava para ouvir o “Canto de Verônica”, interpretado por Onélia Campos, cuja belíssima voz comovia os itiubenses da Gema.” > (Antônio Ricardo Benevides)

> “No meu tempo, era indispensável ter roupa e sapato novos para ir à igreja e à procissão, pois era o dia da Padroeira da cidade, a Imaculada Conceição Maria Santíssima – uma festa de extrema importância para a igreja católica e que marcava o início do ano litúrgico, uma das principais celebrações que antecediam o Natal. Tenho boas lembranças daquele período: era organizado um Parque de Diversões na Praça Nova, com barraquinhas de palha vendendo guloseimas, bebidas, etc., no largo da igreja e adjacências. Havia também outras barraquinhas que funcionavam como “prisões”, onde casais eram retidos mediante o pagamento de uma pequena quantia para sua liberação, além de bancas de jogos de azar, como roletas e bingos. Nossa Rádio Cultural tocava músicas românticas para embalar os corações apaixonados. Tudo isso acontecia nos dias que antecediam a festa e, com ainda mais ênfase, no dia 8, a data maior. Lembro-me, durante a procissão, do andor com Nossa Senhora, que passava de ombro em ombro – um privilégio que muitos desejavam. Havia também aqueles que, ao tocar no andor e se benzer, aproveitavam para agradecer e pedir proteção em uníssono. Essa data era de extrema importância para Itiúba, não só pela festa, mas também por ser uma oportunidade para os filhos da cidade visitarem parentes e amigos na “boa terra”.” > (Valmir Simões)

O site ainda reúne outros textos sobre o assunto; entre eles, há um relato sobre a polêmica instalação – na época em que não existiam repetidoras de sinal – de uma antena de TV no alto da torre da igreja, ao lado da cruz, com autorização do vigário. Embora essa iniciativa tenha sido alvo de inúmeros protestos, por ser considerada desrespeitosa, nenhum sinal foi captado, e a antena foi retirada no dia seguinte, para alívio dos descontentes e daqueles que sonhavam com uma diversão a mais nas noites itiubenses.

Para não alongar demais este texto, encerro por aqui.

Nota do Autor: O texto acima resulta da coleta de informações em trabalhos publicados pelos itiubenses Hugo P. Carvalho, Antônio Ricardo Benevides e Valmir Simões neste site.