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Grutas e Cavernas - Parte 2

GEOGRAFIA E PAISAGENS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho

Grutas e Cavernas - Parte 2

Esta é continuação dos relatos já escritos e fazem parte do acervo “Lembranças do meu tempo”. Como explicamos anteriormente, trata-se de um registro e também um apelo para salvarmos o que temos escondidos no interior das montanhas itiubenses.

A terceira expedição saiu com destino a Serra da Tapera, com metade dos voluntários da primeira. Essa se revestia das razões da decadência da aristocracia rural nordestina, com ascensão e queda da figura enigmática do Padre Severo Cuim Atuá. Diz a história que ele praticava desatinos incompatíveis a sua condição de vigário. Acolhia em sua residência os boiadeiros que usavam a estrada real. Esses negociantes de gado eram mortos na calada da noite e seus bens ficavam com ele. Seus corpos e pertences de pouco valor eram jogados numa gruta escondida na serra, por trás do seu Palácio. Gruta que encontramos e sequer achamos uma velha espora, um pedaço de ferro ou um osso humano. Era apenas morada de morcegos. É outra lenda criada em torno desse Padre que muito trabalhou quando foi Presidente da Câmara na cidade de Senhor do Bonfim, sempre apontado como o autor do pedido ao Governador da Bahia dos recursos financeiro e construtor do Paço Municipal da Câmara, Prefeitura, Fórum e Cadeia no ano de 1884. Para nós jovens simplórios, por detrás da aparente desordem, existiam determinações movidas por força misteriosa e destemida, para desvendar esta e outras crendices ligadas às cavernas itiubenses.

Na quarta viagem chegamos a Serra da Pintada. Aí, sim, encontramos provas da existência de animais pré-históricos. Recolhemos ossos parecidos com costelas, com mais de um metro, com 40 a 50 centímetros e uma queixada sem dentes. Voltamos entusiasmados para logo em seguida retornar. Encaminhamos para a Universidade Federal em Salvador, todo material, embalado com cuidados extremos para exame e orientação dos próximos passos. Demorou tanto tempo que não houve a segunda visita. Também foram encontradas pinturas rupestres numa laje grande e pedras isoladas.

A quinta era para descobrir e chegar ao esconderijo do Riacho do Veado na Fazenda do mesmo nome. Cada decepção nos achados diminuía os integrantes da caravana seguinte. Nesta apenas quatro ou cinco dos vinte tantos homens, que subiram a Serra do Sobrado participaram. Não sabemos se ainda existe o riacho que descia de um minadouro perto de um lajedo e lentamente corria ladeira a baixo. Ao encontrar uma pedreira a água ai desaparecia e nossas buscas não foram suficientes para achar a saída. Um mistério que valeu para nós como incentivo para outras expedições.

Na sexta saída, já com parcos recursos e imenso sacrifício, atingimos a Gruta da Serra do Souza. Esta pode ser chamada de caverna. Tem largura suficiente na sua entrada para iluminar seu interior. Existiam alguns vestígios, como se alguém houvesse morado lá. Merecia estudos precisos e cuidados especiais para sua preservação.

Por último chegamos à ponta da Serra da Pedra Solta. Neste local que marca o início da cadeia montanhosa, antigamente, denominada Serra da Tuyuuba, que recebeu depois o nome de Serra da Tuyba, hoje, simplesmente e bela Serra de Itiúba. O lado voltado para o leste é conhecido com a CARA. Quando é visto de longe tem formato de rosto. Lá estivemos procurando vestígios indígenas. Recolhemos pedaços de cerâmicas e nada mais. Por sugestão de um morador chegamos ao ORATÓRIO, que não revelou nada de importância histórica.

Para satisfazer nosso ego, que sempre está amarrado à ideia da busca do equilíbrio emocional, nunca esquecemos o desentendimento, o cansaço, o risco, a alegria por termos participados com os amigos dessas e de outras caravanas. Cumprimos nossa missão, com certeza. O padrão, a regra, a norma, o conselho, a promessa, a força e nossa vontade de acertar faziam com que todos nós assumíssemos compromissos para outras diligências.

Esta turma merece ou não aplausos? Muitos homens juntos sempre falam e praticam as mesmas coisas: questionamentos, desistências e conversa fiada. No início somos sociáveis, mas, logo qualquer bobagem vira motivo de discórdia. Contudo, por todos os itiubenses, mesmo assim apelamos para que este trabalho silencioso e em comunhão com a natureza, seja ressuscitado, pois, tudo era realizado despretensiosamente, porém, agarrado aos fiapos da esperança. Vamos manter no anonimato os integrantes das expedições aqui narradas por questão de respeito a alguns que já partiram para descanso eterno. Portanto, temos de bater palma a esta iniciativa frustrante e, ao mesmo tempo, tão nobre. Sabemos que tudo vai depender do lado que outras pessoas passem a olhar o tesouro escondido nas entranhas das nossas velhas e amadas serras. Temos a impressão de que tudo está ali com vida à espera dos novos desbravadores e de tão bela, aqui não cabe explicações. Nossas portentosas serras escondem dos incautos a visão dos tempos idos e do que restou, protegendo assim os seus mistérios e realidades para surpreender no momento certo, quando outros voltarem a procurar novas fontes de informações sobre os processos geológicos e da biodiversidade da região.

 

 

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