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Grutas e Cavernas - Parte 1
GEOGRAFIA E PAISAGENS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho
Sem nenhuma intenção de vandalismo, os jovens audaciosos, sem entender do assunto, se revestem de atitudes pesquisadoras em busca dos objetivos das manifestações e temores aos lugares escuros, morada do bem-escondido, ou mesmo por pavor dos seres invisíveis, sem noção de perigo e com sobra de coragem acima do limite do encantamento dos amadores. Prevalecia o desejo da descoberta. Daí é um passo para formar um grupo de amigos, todos curtidos pelo sol e sobreviventes das secas, na procura do equilíbrio enganador. Partimos certos de que tudo nesta busca perigosa seria mais um passeio.
No interior de qualquer caverna existiu um lar, um refúgio, ponto de encontro como palco das primeiras tentativas para preservação das espécies. Deve ser este fascínio que perdura até hoje que leva homens e mulheres a pensar no futuro. Organizamos algumas expedições nos meados dos anos 50 para explorar as grutas nas serras da Tapera, do Sobrado, do Souza, da Pedra Solta, da Laje do Céu e do Riacho do Veado, que até agora continuam desconhecidas da maioria dos itiubenses moços e idosos. É uma pena, pois, nossas serras, certamente, guardam segredos milenares. Nascemos para as descobertas e conhecimentos dos seus registros. A mente humana é depositária do passado e tudo ou nada se compreende sem aprendizado. Fora isso, tudo é estória. Mesmo reconhecendo as falhas cometidas, foi um ponto de partida. Quanto aos resultados, nem sempre foram bons. Faltou equipamento e sobrou disposição. Na ocasião ficamos satisfeitos abraçando a oportunidade para descermos as lapas, fojos e antros subterrâneos. Hoje resta colocar no papel uma saga válida e não continuada. Estamos convictos de que o singelo sistema adotado para medir não era o melhor. Entretanto, era o disponível, com custo zero, aliado a sede e a fome. Para nós, valiam os cenários misteriosos que se associavam ao imaginário das brenhas escuras das cavernas.
Era curto nosso conforto, mas, a ambição era comprida, tanto, que ninguém ligava para as traiçoeiras derrapagens e ciladas comuns naquelas andanças.
Aqui não defendemos a exploração pura e simples. Queremos mostrar que é possível o levantamento de dados necessários para elaboração de medidas protecionistas, estudos e manejos. Alguém já disse que quando não existe regra, cada um impõe a sua. Mas, tudo tem seu tempo e é chegada a hora de proteger as grutas com trabalhos de análises e pesquisas, para sabermos o que ainda é possível ser feito.
Vamos lembrar a primeira caminhada. Reunimos o grupo apenas uma vez e ficou acertado que todos ali presentes participariam da expedição. Dia e hora combinados, cada um ficou encarregado de levar uma peça: os mais fortes carregariam a bateria de carro e as escadas de madeira. Obedecido este critério chegamos a Serra do Sobrado, bem no topo dos seus oitocentos e tantos metros de altitude, com comida, água, cordas, alavancas, pás, lanterna de pilhas e pouco tempo para encontrar o buraco para a descida. Tudo pronto ficou decidido, que o mais magro seria amarrado pelos pés e entraria de cabeça na toca. O primeiro escolhido recusou alegando que era asmático... o segundo que trabalhava numa padaria e por ofício sabia tudo sobre escuridão, com disposição e sem impor qualquer condição aceitou a tarefa. À medida que ele desaparecia na apertada abertura da caverna, nossa ansiedade dobrava. Passados uns dez minutos na tentativa de atravessar as pedras e raízes ele pediu para ser puxado de volta. Informou que com a luz da lanterna viu apenas um espaço de cor amarelada como uma parede. Pediu para alargar a boca da gruta e aí foram gastas as poucas energias restantes após a subida a pé.
Na segunda tentativa o nosso destemido companheiro passou do primeiro estágio e anunciou que via um salão de chão batido com algumas saídas arredondadas. Regressou todo sujo de um pó ocre e tossindo muito. Como eram quase 17 horas, colocamos madeiras e pedras na abertura, para evitar qualquer transtorno na nossa volta ao local. Nunca regressamos lá.
A segunda expedição partiu com três quartos dos aventureiros da primeira para alcançar a Serra da Laje do Céu. Antes ouvimos o senhor Agenor dos Correios, que era dono de uma roça próxima. Com as informações, lá chegando, procuramos o tal “buraco que ronca”. Passamos duas horas e só achamos uma grota com uma lapa de pouco mais de um metro de profundidade. Não se ouvia nada. Apenas a terra ao seu redor era bem mais quente que o normal. Para não perder a viagem, passamos a desfrutar a deslumbrante vista da Laje do Céu que, sem nada pedir em troca, amenizou nossa decepção e com os ânimos renovados atiramos nossos chapéus no ar e todos eles voltaram pela força dos ventos.
Ficamos atrapalhados, mas, não se perdeu a noção da realidade do mecanismo das reações, quando se procura aquilo que não guardou. Por estas e outras razões voltaremos a escrever sobre as outras quatro expedições em busca dos segredos guardados nas grutas e cavernas das nossas lindas e misteriosas serras.
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