Blog

A Serra-velha

FOLCLORE
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

A Serra-velha

 

Na semana santa, uma brincadeira perigosa e cruel chamada de "Serra Velha" era realizada na cidade. Depois da meia-noite de quinta para sexta-feira da Paixão, quando a energia elétrica da cidade era desligada, um grupo de rapazes saia às ruas com chifres de boi, que serviam de cornetas, serrotes e latas velhas. Tudo isso para perturbar as pessoas que viviam juntas, mas não eram casadas legalmente. Alguns "serradores" mais afoitos e corajosos chegavam ao ponto de prender as portas e as janelas da casa das "vítimas" com arames de aço, para que elas não saíssem, obrigando-as a ouvir a barulheira e o sermão do "conselheiro" que, com bastante ironias, recomendava a regularização da situação conjugal. Alguns desses casais preferiam sair da cidade. Um deles, porém, participava também da brincadeira, ajudando a "serrar" os outros, divertindo-se e tirando partido de uma situação que poderia ser adversa para ele.

O Sr. Tibério, Delegado de Polícia, contava apenas com o cabo Zé de Souza e um soldado, mas mesmo assim, tentava evitar a brincadeira, andando a noite toda pela cidade. Os participantes do grupo brincalhão diziam que a presença do delegado e dos policiais nas ruas servia apenas para tornar a "serra" mais emocionante. Um comerciante sério, sisudo e considerado por todos como responsável, era o financiador da brincadeira, porém não aparecia e ninguém jamais suspeitou dele.

Comentários


(0) Comentários...