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A Queima dos Judas

FOLCLORE
Autor: Hugo Pinto de Carvalho

A Queima dos Judas

 

Nas comemorações da semana santa na cidade, era costume, na noite do sábado de aleluia, a realização da "queima do Judas". Um boneco muito bem feito, de pano com enchimento de palha e algodão para facilitar a propagação do fogo e recheado de bombas, muitas bombas de vários calibres, tudo feito cuidadosamente pelo melhor fogueteiro da região, o Sr. Horácio Pinto, que morava na Rua dos Artistas.

Enquanto o Judas rodava em seu pedestal fumegante, cada parte de seu corpo ia explodindo, uma de cada vez, proporcionando um espetáculo pirotécnico que chamava a atenção e era aplaudido por todos, na Praça da Igreja. Antes, porém, tinha ainda a leitura do testamento do Judas, que era muito engraçada. O Artur Teixeira subia em um palanque improvisado e, em voz alta, quase gritando, iniciava a leitura das oferendas do "traidor de Cristo". Neste testamento o Judas agraciava as pessoas mais conhecidas da cidade com as coisas mais absurdas que se possa imaginar, como, por exemplo, redes furadas para quem gostava de pescar, paletó sem mangas para os políticos, agulha enferrujada e sem ponta para os alfaiates, caneta sem tinta para os professores, sino sem badalo para o sacristão, cavalo sem pernas para os vaqueiros e inumeráveis outros absurdos. Eu me lembro que o Sr. Jóvi (meu pai), por gostar de pescar e caçar nos finais de semana, todo ano era agraciado com uma tarrafa furada e uma espingarda sem cano, e o Sr. Belarmino Pinto (meu tio) um dos principais políticos, era o primeiro da lista, agraciado com um velho paletó sem mangas. É... em Itiúba o Judas morria queimado, mas fazia sua gozação!  

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