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Sumiram os Passarinhos
FLORA E FAUNA
Autor: Humberto Pinto de Carvalho
Acreditamos que os meninos de ontem e também os de hoje gostam de passarinhos, quer sejam de gaiolas ou que vivem ao ar livre. Guardamos algumas lembranças da quantidade de aves que povoaram nossa meninice em Itiúba, região dotada pela natureza de lindas serras e vales que abrigavam quase todas as espécies conhecidas no sertão nordestino.
Quem não lembra dos patos voando em formação: um na frente como líder e os outros seguindo-o formando uma asa delta. Recordamos as revoadas das “Pombas das Secas”, conhecidas também como Avoantes e de Arribação, que, entre março e abril de cada ano, surgiam no céu em abundância. Não sabíamos para onde voltavam após tão curto período. Faziam seus ninhos no chão para desovar e criar. Vimos seriemas que durante o dia nos descampados procuravam insetos para sua alimentação. Quem criava porcos em chiqueiros sabia o trabalho que tinha com os Azulões que, em bandos cada vez maiores, disputavam as rações de engordas. Canários amarelos (de briga e de canto), curió, coleira, pintassilgo, tenentes, pássaro-preto, sabiás-coca e de sebo, beija-flor, pica-pau, periquitos-rico e são José, papagaios nas feiras livres eram vendidos com ou sem gaiolas. Rolinhas “Fogo-pagou”, “Caldo-de-Feijão” e Cabocla eram encontradas com frequência nas estradas e fazendas. Pomba–verdadeira voava alto com uma cadência que demonstrava segurança. Desapareceu e se ainda existir estão longe dos caçadores inescrupulosos. Seu canto mavioso e repetitivo parece um lamento como premonição do que vem ocorrendo para a lenta e inexorável extinção. Jacus que disputavam cajás nos cocurutos das serras. Juritis com seus cantos nostálgicos e agradáveis. Nambu e codorna aves de Voos curtos e em linha reta. O nosso Sofrê que em outras regiões é conhecido como corrupião, para nós o mais lindo, porém visto pelo sertanejo como malvado, que para não construir os seus ninhos expulsa os filhos dos outros pássaros atirando-os ao chão para morrerem de fome. Suas plumas coloridas sem igual emprestam a esta ave visual que impressiona. É inteligente. Quando criado em cativeiro desde pequeno assobia melodias e já ouvimos até imitar o Hino Nacional. Tão sabido que neste mundo dos espertos transformou-se num mau-caráter preguiçoso. Cancão com sua coloração preta, mesmo considerada por muitas pessoas como ave de mau agouro, não espantou os seus perseguidores. O anu-preto vem bravamente suportando as mudanças climáticas para se manter vivo. O mesmo não se pode afirmar do anu-branco. Mesmo com cores diferentes, esses pássaros vivem em grupos geralmente de 8 a 10 indivíduos, que dormem sempre na mesma arvore. Sua alimentação é basicamente de insetos. Rasga-mortalha, poucos sertanejos viram essa ave por ter hábitos noturnos. Voa rente aos telhados das casas da cidade, procurando pequenos roedores, seu alimento preferido. Em intervalos curtos emite grunhidos que parecem pano forte sendo rasgado. Daí o nome popular. Tem quem acredite que se ela sobrevoar determinada casa, com insistência, uma pessoa daquela família não vai durar muito tempo neste vale de lágrimas.
Como alegria compensatória podemos destacar outras aves que estão resistindo às instabilidades do meio ambiente, aos agrotóxicos e a ganância. Ainda paira no ar o gavião, que continua perseguido pelos Bem-te-vis na defesa dos seus ninhos e territórios. Quando o Gavião, a ave mais rápido que qualquer outra, é afugentada com bicadas na parte superior da cabeça. O agressor desaparece em minutos. É proeza digna de ser vista e aplaudida. O Quero-quero é outro que desenvolveu defesas para escapar e se manter vivo nestas paragens. Quando avistam intrusos fazem alaridos e voam para o lado oposto do ninho feito no chão perto de lagoas e rios. Estratégia que deu certo até agora. A garça-vaqueira tem esta designação por seu hábito de acompanhar o gado nos pastos e se alimentar de pequenas larvas retiradas do solo pelas patas dos animais. Urubu, o velho agente funerário, o melhor planador que temos no ar. É ao mesmo tempo, admirado e asqueroso para muitas pessoas. São conhecidos três tipos: o de cabeça preta predomina. O de cabeça vermelha é menor em tamanho e número. O urubu-rei é vistoso. Quando chega ao banquete nenhum outro ousa ficar perto. Saciado levanta voo e deixa os restos para quem esperou. Acreditamos ser a única ave que não é alvo dos traficantes da fauna silvestre brasileira. Fomos alertados, que foram legalmente exportados para alguns países da Europa, casais da espécie cabeça-preta, para após adaptação ambiental prosseguirem na sua nobre tarefa de lixeiros sem direito a passaportes ou vistos de turistas.
Os séculos nos legaram uma diversidade de espécies, que ao longo dos anos vêm se dizimando. Proteger as aves que ainda não foram caçadas, aprisionadas, contrabandeadas não é trabalho para uma geração. A verdade é uma só em qualquer lugar. É uma tristeza.
Assim sendo, resta apelar para os detentores dos poderes constituídos, em nome dos jovens, para que medidas de baixo custo, porém eficazes, como difundir nas escolas públicas e privadas do município a necessidade da preservação das aves que sempre nos brindaram com seus cantos e seus livres voos, sejam tomadas. Que se respeite o meio ambiente para salvar o que resta. Que as gratas recordações não se transformem em saudades. Que os meninos e meninas itiubenses não enterrem suas alegrias na incompetência coletiva dos adultos.
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