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O Mandacaru
FLORA E FAUNA
Autor: Dourival Brandão Filho
O mandacaru ali, forte, impávido, impar, verde feito um soldado. A murmurar quantas luas eu vi nascer, quantos sóis eu vi se pôr.
O cachorro Pablo estapeava os sapos dos lagos artificiais do lajedo, que eram cheios por meio de uma mangueira que sob pressão dos dedos provocava uma chuva artificial e microclima, que naquele exato momento resgatava o coaxar de um coral de alegres sapos.
Enquanto isto, eu deliciava da cerveja gelada, a desfrutar feito um quiróptero que apreciava a cultura filosófica da noite.
Em silêncio ouvia o tilintar das garrafas uma a uma quando esvaziadas ao acostar na laje. E mergulhado no contemplativo e bucólico silêncio da noite Itiubense, ouvia de longe o badalar de chocalhos de animais que pastavam na escuridão, perseguidos por acuados latidos de cães, que uivavam feitos lobos vira-latas.
Fulcrado no lajedo, fitava os olhos ao infinito e assistia à lua prateada a flutuar no céu sobre o véu matizado de estrelas que salpicavam a noite em pisca-pisca distantes. De repente uma cadente silenciosamente traçava o azul e eu automaticamente perseguia-lhe com o meu pedido. E no jejuno terapia da cidade grande, de quem estava de férias e distante, ouvia o vento saudoso que soprava os fios da energia elétrica com sons de violinos, orquestrando a cidade.
A fixidez recortada das serras coroava a cidade como rainha, enquanto a sinfonia dos cantos dos pássaros contemplava a natureza. E naquele exato momento, já evocando um mântrico de tanta paz, chacinava os pensamentos indesejados, guilhotinando-os com mutilações psicológicas, enquanto respirava profundamente a brisa rara com cheiro de mato.
E quase levitando sentia-me apenas preso ao cordão prateado da vida, lembrando de quanto perdiam os viciados nas cidades grandes, apenas a assistirem aos espetáculos diários do agonizante stress dos eternos engarrafamentos na esperança do visionário mundo opulento que nunca chega.
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