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Jias, Cururu e Caçote

FLORA E FAUNA
Autor: Humberto Pinto de Carvalho

Jias, Cururu e Caçote

 

Quando chovia regularmente nas nossas Serras de Itiúba, brincávamos de tomar banhos nos riachos. Também dormíamos cedo e acordávamos ao alvorecer. Todos nascidos naquele tempo lembram-se do sapo-cururu que aparecia na rua e, em especial, no corte da linha do trem. A dúvida de sempre era saber de onde saia. Simplesmente ele constatava que choveu e logo aparecia para aproveitar as poças d’água e nadar. Em seguida era a vez dos caçotes (rãs esverdeadas) que não caminhavam e sim pulavam a procura das cacimbas. Havia o sapo-boi, considerado como muito valente e que enfrentava qualquer um que ousasse chegar perto do seu esconderijo. Este assunto vem a propósito da observação que Banduca fez, quando ficou hospedado conosco no bairro do Itaigara, em Salvador. Ele, numa manhã chuvosa, lembrou que em Itiúba não mais se ouvia o “canto da jia preta” tão comum nos tempos de menino e que naquele dia ao acordar no meio da noite ouviu o coxear das jias que moram no córrego ao lado do nosso prédio. É uma realidade. Ali as jias encontraram proteção e estão se reproduzindo. Ao contrário das suas irmãs da Cacimba do Vintém que desapareceram do meio ambiente. Posso até errar ao fazer este comentário. Mas, há 50 anos apareceu um Dr. Juiz de Direito em Itiúba, que caçava jia e alardeava que era a melhor iguaria dos restaurantes chiques da Capital. A partir daí as jias itiubenses não mais cantaram seu triste lamento.

Cururu de pé de pote ainda é visto. Caçote, a conhecida perereca, perdeu a cor, mas, ainda existe. Sapo-boi, apenas de ouvir dizer, que nos poucos brejos de hoje continuam por lá. Temos de torcer para ser instalado na nossa Itiúba um ranário, não daqueles do Deputado e sua digna esposa nortista. Queremos umas criações domésticas de rãs-gigantes, que atenda o mercado dos imitadores do Juiz. Somente assim, os anuros, adaptados às duras penas ao nosso clima quente, poderão voltar a procriar e livrar-se das perseguições dos comedores de jia, para alegrias da garotada de hoje que nunca viu uma rã, um sapo e uma jia no seu ambiente natural.

E nós, os jovens de ontem, aqui estamos para relatar essas coisas desagradáveis “engolindo sapos”, sem rancor, inveja ou conveniência.        

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