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No Tempo do Trem da Leste

ESTRADA DE FERRO, ESTAÇÃO, TRENS
Autor: Egnaldo Paixão

No Tempo do Trem da Leste

     

Se o tempo tivesse esteira, se o tempo tivesse mãos, se tivesse além de tudo, outras cotas de emoções, e se rolar eu pudesse, ao passado e fizesse todas as peripécias de quando a gente não cresce, queria rever meu pião girando feito planeta, fazendo mil piruetas na palma de minha mão. Em verso e prosa queria lembrar os doces gostosos, que no tempo de eu menino, a velha doceira fazia. Doce de leite e de caldas, doce de umbu em fatias, Dona Dejanira tinha a doçura em suas mãos; no tabuleiro da velha, que Lourival carregava, com certeza ali estava, as doçuras do sertão. O açude do Jenipapo, de água serena e parda, era o paraíso dos sapos e também da meninada. E ninguém adoecia, só se fosse de alegria. À noite ia-se ao cinema, películas de vários temas era a única diversão. Tendo circo, tudo bem, se não, era mesmo cinema, todos queriam emoção... Se o tempo tivesse esteira, se o tempo tivesse mãos, se tivesse além de tudo outras cotas de emoções, com certeza eu voltaria, a rever com alegria o tempo do Trem da Leste, de homens cabras-da-peste, trancando a feira a facão. Queixinho, Escurinho e Ananias, dando trabalho ao Queiroz, davam trabalho à Nação; Fosse inverno ou verão... umas pinguinhas a mais, davam fogo ao coração, botando lenha na paz. Passada, assim, a ressaca, quando o fogo então baixava, tanto de vinho e cachaça, voltava em tudo a razão. Itiúba, daí, só queria, dar cura a quem lhe pedia, com o ar puro das serras e a força da gratidão. 

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