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O Balanço dos Sessenta Penicos

ENGRAÇADAS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

O Balanço dos Sessenta Penicos

 

Meu irmão Banduca era o orgulhoso proprietário do maior armazém da cidade, um verdadeiro ponto de referência local. Lá se vendia de tudo, de soda a granel a alimentos e bebidas. Na entrada principal, o tradicional letreiro “Armazém de Secos e Molhados” anunciava a diversidade de produtos disponíveis. Porém, o que tornava o ambiente ainda mais peculiar eram as dezenas de passarinhos que Banduca criava em gaiolas individuais, penduradas por todas as paredes do estabelecimento. Ele dedicava horas do dia a essa paixão, trocando água, limpando as gaiolas e alimentando sua alegre criação.

Além de suas habilidades como comerciante e criador de passarinhos, Banduca desempenhava outra função inusitada: aplicava injeções gratuitamente em quem precisasse. Naquela época, as injeções eram o “remédio universal”, especialmente para gripes. Banduca parecia ter o toque de um profissional de saúde experiente, pois, mesmo depois de milhares de aplicações, nunca houve um incidente ou complicação. Sorte ou talento? Talvez ambos.

Mas vamos ao episódio que se tornou uma das histórias mais contadas da família. Como de costume, todo mês de janeiro, era realizado o balanço anual do armazém. Esse processo minucioso consistia em contar as mercadorias, verificar os débitos e calcular os haveres, com o objetivo de determinar o lucro ou o prejuízo do ano anterior. Banduca, com sua caligrafia às vezes complicada e quase indecifrável, fazia as anotações iniciais e depois repassava os dados ao encarregado pelo balanço. Quando este não conseguia entender o que estava escrito, chamava Banduca, que rapidamente esclarecia a situação.

Porém, naquele ano em particular, nem o próprio Banduca conseguiu decifrar um dos itens anotados. Era uma palavra ilegível que, por consenso, foi deixada para o final do balanço. Durante todo o dia, ele examinou as anotações e observou atentamente as mercadorias nas prateleiras, mas nada parecia fazer sentido. Para complicar ainda mais, o encarregado insistiu que não encerraria o balanço até que aquele item fosse identificado.

Determinado a resolver o enigma, Banduca passou mais um dia inteiro vasculhando o armazém e revisitando suas anotações, até que, finalmente, teve um momento de epifania. Com uma alegria contagiante e o rosto vermelho de emoção, ele saiu correndo pelo armazém, gritando a plenos pulmões:

— Sessenta penicos! Sessenta penicos! Sessenta penicos!

E repetia, sem parar, como se tivesse encontrado um tesouro:

— Sessenta penicos! Sessenta penicos! Sessenta penicos!

 

A cena era cômica e memorável, e o evento ficou para sempre gravado na memória  como o “Balanço dos Sessenta Penicos”. A história continua a arrancar risos dos que a ouvem, celebrando o jeito singular e carismático de Banduca.

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