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Não Esquecido
ENGRAÇADAS
Autor: Herbert Pinto de Carvalho
Meu avô paterno, que era inteligente e alfabetizado, contava que seu pai abria as portas da sua casa às 5 horas da manhã e fechava às 9 da noite para que todos ali abrigados fossem dormir e ter disposição para trabalhar e aprender as lições que a vida ensina no dia seguinte. Nosso bom pai gostava de café forte e com pouco açúcar. Quando chegava à mesa e encontrava café fraco, saía com esta pérola: “Este deve ser mijo de padre…”. E assim, com esses ensinamentos e gozações, guardei na memória algumas boas lembranças.
Certa ocasião, numa discussão entre dois homens, no meio da feira, em voz alta e em tom de desespero, alguém gritou: “Na tua cabeça não entra nem luz divina!” e o outro se deu por satisfeito e saiu rindo. Quando menino, ouvia palavras que acho estranhas até hoje. Uma delas é “escalafobético”, para dizer que o assunto é escandaloso. Outra é “afolozado”, significando coisas estragadas ou danificadas. “Azucrinar”, com o sentido de perturbar outra pessoa. Presenciei uma mulher com uma lata d’água na cabeça (não havia em Itiúba água encanada) dizendo esta frase: “Aqui eu sofrendo e por aí a chuva caindo no mar”. E outra comentando que um “chá de calçola” ajuda a segurar o amado por mais tempo.
Dona Conceição, nossa querida vizinha que tinha horror às trovoadas do sertão, também era apreciadora das farturas provocadas pelas chuvas. Quando o silêncio voltava, após o barulho dos relâmpagos, dizia: “Chegou o Pai da Fartura”. Muitos acreditam que quando a Bizunga, nosso pequeno Beija-Flor, aparecia perto da casa era sinal de muita paz e desapertos financeiros. Por precaução, vamos ter que zelar por esta bela ave com carinho nesses tempos bicudos de crédito farto e aperto à perda de vista.
Devem ter decorrido no mínimo 50 anos que não ouço alguém xingar um desafeto de capadócio. Parece que essa palavra dorme no esquecimento geral. E por falar em coisas estranhas, vamos recordar alguns ditados pronunciados no nosso tempo de escola, com obediência ao chavão: não meta o dedo onde não deve. Quando não se gostava do outro, dizia: “Sai de mim abacaxi, que tomei leite”. Ao ver o vizinho resmungar, bradava: “Lá está o cara do olho de chora vinagre”. Conselho dos mais velhos: “Tomou café quente? Cuidado! Não tome vento frio, você pode estuporar”. Quando passava um indivíduo sarará, tinha que ouvir de um gozador: “Lá vai o maxixe pelado, que come carne maciça, usa sandália salga-bunda, anda com o rabo para riba ao levar o sapato para o lambe-sola consertar e que ainda usa o quente-frio com chá”. Uma coisa que não se brinca no nosso sertão é tentar explicar a razão das moças donzelas usarem calça comprida com “mamãe-vem-aí”, porque as más línguas diziam que os casais aproveitavam um tempo rapidíssimo entre a saída e a volta da “velha” que vigiava o namoro da filha para se debochar à vontade, devido à facilidade.
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