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A Estação Ferroviária, a Mala e o Carregador
ENGRAÇADAS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Os trens de passageiros passavam pela cidade religiosamente às quintas-feiras e domingos, sempre às 8h da manhã, quando vinham de Salvador, e às 22h30min, quando seguiam para lá. A chegada do trem era um acontecimento em si, transformando a estação ferroviária em um palco de vida e agitação. Uma hora antes de sua chegada, a estação já pulsava de movimento: vendedores de mingau e cuscuz disputavam a atenção dos presentes com seus aromas tentadores, carregadores de malas se posicionavam estrategicamente, mulheres exibiam bolsas e sacolas de palhas de licurizeiros, feitas com mãos habilidosas ali mesmo. Havia também aqueles que aguardavam para embarcar ou receber parentes e amigos e, claro, muitos que iam simplesmente para assistir ao espetáculo da chegada e partida do trem, um programa social e tanto.
Entre os vendedores, destacava-se Dona Mariazinha dos Cambecas, conhecida por sua energia e determinação. Além de comercializar suas próprias bolsas de palhas aos passageiros, tinha o hábito engenhoso de adquirir os produtos das colegas vendedoras que não conseguiam realizar vendas. Dessa forma, ela assegurava que todos saíssem ganhando — uma verdadeira empreendedora local.
Certo dia, durante a chegada do trem de passageiros vindo de Salvador, o carregador de malas chamado Cândido estava, como de costume, a postos. Ele abordava os viajantes que pareciam estar desembarcando, oferecendo seus serviços. Nesse dia, recebeu pelas janelas da classe uma mala enorme, entregue por um passageiro que não desceu. Após a partida do trem, Cândido esperou pacientemente por meia hora, procurando pelo dono da mala, mas ninguém apareceu. Aconselhado pelos que testemunharam o episódio, decidiu levar a misteriosa bagagem até a Rádio Cultural, onde ela foi deixada para que o proprietário fosse chamado. Durante dias, os anúncios na rádio foram feitos, mas o enigma permanecia: ninguém reclamava a mala.
Sem outra alternativa, a solução foi levar o item para a Delegacia de Polícia. Lá, o delegado, auxiliado pelo escrivão, abriu a mala na presença dos curiosos, revelando seu conteúdo: camisas, meias e cuecas novas, ainda embaladas. O delegado, com ar de encerramento, instruiu o escrivão a redigir um "termo de guarda", colocou a mala sobre um armário e decretou que o caso estava encerrado.
Mas a história não terminou ali. Com o passar do tempo, os moradores da cidade começaram a notar algo curioso: algumas pessoas circulavam usando camisas e meias que lembravam, e muito, aquelas da misteriosa mala. A origem dos itens parecia, aos poucos, ter se espalhado — silenciosa e discretamente — pela comunidade. E assim, o mistério da mala abandonada ficou marcado não apenas como uma peculiaridade da estação ferroviária, mas como uma lembrança divertida e, quem sabe, um pequeno segredo compartilhado por muitos.
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