Blog

O Tesouro da Casa do Padre

DIVERSOS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

O Tesouro da Casa do Padre

Quando eu era criança, ouvia histórias fascinantes contadas pelos mais velhos sobre um suposto pote repleto de dinheiro enterrado na casa paroquial. Essa casa, localizada na mesma rua onde eu vivia com meus pais e irmãos, tinha um ar misterioso que só fazia aumentar nossa curiosidade. Ampla e imponente, ela ainda possuía um vasto terreno cercado nos fundos, que chamávamos de pasto. Às vezes, um riacho deslizava por ali, enchendo poços e cacimbas pelo caminho, criando cenários que pareciam saídos de um conto.

Durante um período em que a Paróquia ficou sem padre, meu amigo Manoel Carlos e eu resolvemos dar vida às lendas e encontrar o tão falado tesouro. Travessos como éramos, conseguimos entrar na casa por uma janela mal fechada, sentindo a adrenalina de uma aventura secreta. Logo ao entrar, notamos um ladrilho na sala que se destacava entre os outros, quase como se nos dissesse: "Aqui está o que vocês procuram!"

Com ferramentas que pegamos às escondidas em nossas casas, iniciamos a busca pelo pote de dinheiro. Cavávamos com vigor, imaginando como gastaríamos toda a riqueza que encontraríamos. Manhã após manhã, lá estávamos nós, afundando pás na terra e construindo sonhos. O buraco cresceu tanto que acabou ocupando praticamente toda a sala. Apesar do entusiasmo inicial, começamos a nos desanimar. Era um trabalho árduo, e a "fortuna" parecia cada vez mais distante.

Foi então que o inesperado aconteceu. Certo dia, enquanto não estávamos lá, a faxineira da igreja decidiu limpar a casa. Ao entrar e se deparar com um enorme buraco no meio da sala, ficou aterrorizada. Fugiu correndo pela rua, gritando aos quatro ventos que o tesouro do falecido havia sido encontrado e roubado.

Naquele tempo, as histórias diziam que os ricos enterravam seus bens – joias e dinheiro – para evitar roubos. Quando morriam, tornavam-se espíritos que revelavam o local do tesouro a alguém digno, buscando finalmente descansar em paz. Por meses, tentaram descobrir quem havia sido o sortudo. Qualquer um que demonstrava melhora financeira era apontado como o possível escolhido pelo espírito. E nós? Mantivemos nosso segredo. Guardamos para sempre a memória dos dias de aventura, dos calos que as pás e enxadas nos deram, e da certeza inabalável de que dali só saíram terra… e mais terra.

Comentários


(0) Comentários...