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O Menino que Escrevia Cartas

DIVERSOS
Autor: Max Brandão Cirne

O Menino que Escrevia Cartas

         

Isto foi a muito tempo atrás. Começou lá nos sertões de Itiúba, uma cidadezinha nascida e crescida encravada entre altas montanhas. Poderia até dizer que as montanhas formam muito mais um imenso buraco aberto por provável queda de algum desses meteoros gigantes sobre a terra. Pois bem, nos sertões de Itiúba, entre sonhos e devaneios da idade, um menino era constantemente procurado por pessoas humildes e analfabetas, em que, na sua profunda cegueira das letras e desconhecendo o mínimo, chegava até a nossa casa e pedia a um menino, casualmente este que escreve aqui e agora, para que escrevesse carta. Escrevi em nome daquelas pessoas de todas as idades, muitas cartas. Para São Paulo, Rio e cidades mais próximas, incluindo a capital do salvador. De repente, essas recordações me assaltam, as pessoas chegavam e pediam, sem nenhum escrúpulo, para que eu escrevesse suas carta. Algumas apenas diziam: “faça a norma”, que outra coisa não era senão preâmbulo. Sei e afirmo que as cartas eram floreadas por mim, tendo eu deixado minha “verve” poética, se me permite extrapolar, derramar sobre aquelas folhas de papel, que eram normalmente trazidas em papel pautado ou até mesmo em folhas de cadernos, todas as doçuras ou amarguras.  Normalmente e quase sempre, as cartas eram para levar e pedir notícias, levar outras, e, receber notícias da parentela. Ajudei a pedir em casamentos, a despedir namoros, a desfazer boatos. Quase sempre só sabiam mesmo dar os nomes das pessoas. De tudo tinha um pouco. As pessoas saíam altamente felizes e agradecidas. Hoje, de repente, me veio lembranças daquele tempo em que eu garoto, escrevia e registrava pelos que não sabiam as letras, as suas dores, alegrias e frustrações.    

E como eu sabia fazer.​

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