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A Kosmos Capitalização

DIVERSOS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

A Kosmos Capitalização

 

A Kosmos Capitalização foi fundada em 1937 com o propósito de oferecer uma forma planejada de poupar dinheiro, combinando prazos e juros previamente definidos com o atrativo adicional de participação em sorteios mensais em dinheiro. Essa ideia inovadora à época ajudava as pessoas a poupar de maneira disciplinada, enquanto alimentava a expectativa de prêmios. Em 1980, a Kosmos foi sucedida pela Residência Capitalização (RECAP), que, em maio de 1984, passou a integrar o grupo Bradesco Capitalização S.A.

Meu pai, além de atuar como contador e gerente do entreposto de compra e venda de produtos da região, pertencente ao meu tio Belarmino Pinto, foi, durante muitos anos, o representante da Kosmos em Itiúba. A Kosmos funcionava de maneira simples e engenhosa: o poupador adquiria um título que vinha na forma de uma cartela, com espaços específicos para colar selos correspondentes aos pagamentos das mensalidades. Apenas os títulos que estavam em dia – com todos os selos colados até o mês do sorteio – poderiam concorrer aos prêmios.

A comissão paga pela Kosmos aos seus representantes era modesta e não permitia a contratação de empregados. Por isso, meu pai mobilizava a força de trabalho da família, escalando seus filhos para percorrer as casas comerciais dos proprietários dos títulos, entregando os selos e recolhendo os pagamentos. Essa tarefa era transferida de filho para filho, conforme cada um atingia a idade para assumir a responsabilidade. Assim foi com Bertinho, Banduca, Herbinho, Huguinho, eu e Wilton, nessa ordem.

Inicialmente, o número de títulos vendidos era pequeno e o trabalho gerenciado facilmente. Contudo, tudo mudou quando Virgílio Rodrigues, um dos poupadores, ganhou o prêmio maior. O impacto dessa vitória foi enorme: as vendas dispararam e o volume de trabalho triplicou. Eu me lembro claramente das longas caminhadas para entregar os selos. Uma das rotas incluía a entrega ao próprio Virgílio, no Bairro dos Cambecas, em uma extremidade da cidade, e outra ao Antônio Lisboa, nas proximidades do portão da Fazenda do Estado, na direção oposta. Ambos eram pontuais e pagadores exemplares, mas a distância tornava essas cobranças particularmente cansativas.

A maioria dos portadores dos títulos, no entanto, residia no centro da cidade. Entre eles, estavam José Dantas, José Domingos, Edmar Pinto e vários outros, o que facilitava nossas visitas. Já os moradores do interior do município, devido à distância, costumavam retirar seus selos aos sábados, durante a feira livre, um evento que reunia a comunidade local e se tornava um ponto de encontro para resolver questões como essa.

Após o período de carência – ou seja, o tempo estipulado no plano para atingir a maturidade do título – os beneficiários podiam resgatar os valores pagos, adicionando assim uma gratificação ao hábito de poupar. Esse sistema não apenas incentivava a economia como também trazia entusiasmo com os sorteios e a possibilidade de um prêmio que poderia transformar vidas.

 

A história da Kosmos Capitalização em Itiúba é mais do que uma memória de práticas financeiras do passado; é um testemunho do esforço familiar, da criatividade e do espírito comunitário que marcaram uma época.

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