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Nos Tempos das Sete Casas

CURIOSIDADES
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Nos Tempos das Sete Casas

 

 

Hoje, aquelas casinhas unidas e com apenas uma porta e uma janela na frente de cada uma, estão tristes e bem comportadas. Alguns anos atrás, porém, tudo era diferente. Ali era o local mais movimentado e alegre da cidade, principalmente à noite, quando muitos homens para lá se dirigiam. Alguns disfarçados para não serem reconhecidos e outros com algazarras, tudo fazendo para serem notados. Esses últimos eram os famosos "putanheiros" que todas as noites ali estavam presentes, procurando álcool, diversão e prazer. Também existiam aqueles que ali compareciam apenas para conversar com as compreensivas "meninas" que tudo ouviam pacientemente, enquanto - seguindo a orientação do gerente do bar da boate - fingiam estarem tomando a cara bebida que aqueles "confidentes de puteiro" pagavam sem reclamar. Algumas chegavam até a oferecer conselhos para a solução dos problemas dos "clientes". Também apareciam, sempre acompanhados dos pais ou de alguém por eles escolhidos, os jovens em idade de iniciação na "arte de ser homem". Naqueles tempos era assim, a maioria dos jovens recebia a iniciação nos "puteiros" e com a concordância dos pais que temiam que eles passassem a gostar de outras coisas que não eram aprovadas por eles. Algumas "meninas" mais sabidas, quando voltavam com o garoto assanhado e sorridente, diziam que ele era um super-homem na cama e que nem parecia ser a primeira vez e o pai orgulhoso pagava dobrado. Era no mínimo curioso o modo como as "meninas" se referiam a elas próprias. Quando falavam delas mesmas, nunca usavam o pronome pessoal "eu". Diziam, por exemplo, quando queriam bebida: - Ela quer beber. O visitante que lá comparecia pela primeira vez, após procurar e constatar que não existia outra mulher nas proximidades da mesa, acabava descobrindo que o "ela" se referia à própria "menina" que havia feito o pronunciamento e estava à sua frente. Outro fato inusitado era a existência de mãe e filha "trabalhando" no local. Era surpreendente e até chocante, ouvir a mãe dando conselhos a filha sobre a maneira mais certa de agir e de se proteger nas atividades da "profissão".

Depois de muitos anos de sucesso e frenesi, as Sete Casas fecharam as portas. A decadência começou quando as obras do açude do Jacurici terminaram e muitos "clientes" das Sete Portas, homens que vieram sozinhos de outras cidades e lá trabalhavam, foram embora. Depois apareceu a concorrência das namoradas que, com a liberdade surgida com as mudanças de costumes, passaram a permitir que os jovens fizessem com elas o que eles faziam com as "meninas" e, com isso, não houve renovação da "clientela", pois os antigos frequentadores iam ficando velhos e os possíveis novos clientes não precisavam mais dos "serviços" oferecidos.

Mas a "profissão" mesmo - que chamam impropriamente de "vida fácil" e que, também, dizem, seria a mais antiga do mundo - não morreu, apenas se sofisticou, mudou de nome e hoje se chama "garota de programa", com direito ao uso da internet e de anúncios em jornais para exaltarem suas "qualidades" e oferecerem seus "serviços" que passaram a ser a domicílio, no motel ou onde o "cliente" preferir. Parece que a "profissão" não só foi a primeira, como dizem, mas está destinada, também, a ser a última a desaparecer da face da Terra... Foi o que me contaram.

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