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A Prostituta e o Banho de Fezes

CRENÇAS, RELIGIÕES E SUPERTIÇÕES
Autor: Max Brandão Cirne

A Prostituta e o  Banho de Fezes

     

Essa história é dividida em dois atos, sendo de todos os idosos de Itiúba conhecida, pelo menos, os mais antigos. Se passou na cidade de Itiúba, semiárido baiano, e serve como libelo acusatório à impiedade e a maldade das pessoas, devendo ser vista como aviso aos incrédulos e aos que não acreditam na justiça superior. Numa casa que ficava situada no pasto da fazenda do senhor Valadares, imediações da cidade, rico comerciante hospedou uma prostituta em casa recantada e secreta, em troca de favores sexuais. Era uma bela mulher. Chamemos o homem pelas inicias V. P. e a esposa ciumenta e irascível, D. Comerciante, casado, foi descoberto o ninho de amor. A esposa chamou um jagunço da cidade que lá existiram muitos e, sob pagamento, para dar uma surra na mulher e em seguida lhe aplicasse um banho de fezes humanas. Dia aprazado, o jagunço compareceu na calada da madrugada à casa da pobre mulher, conseguindo, sob artifícios, adentrar a intimidade da humilde casa. Primeiro, aplicou-lhe uma surra desumana sob todos os aspectos e, em seguida, derramou sobre a cabeça da desafortunada alguns recipientes que tinha preparado adredemente, de fezes humanas, apanhadas numa cloaca imunda das imediações, líquido nauseabundo e pegajoso, deixando em seguida a casa da pobre e desafortunada mulher. Justiça não se lhe fez. Era uma pobre brasileira órfã da justiça dos homens. Acobertou-se o crime nauseabundo e hediondo. A mulher retirou-se para Salvador, nunca mais tendo retornado à cidade da sua infelicidade que a conspurcara de vergonhas.

Segundo ato. Algum tempo depois, o jagunço enlouqueceu na mesma cidade. Ninguém nunca soube ou o viu tomar um banho de água. Porém, não resistia a espojar-se sobre fezes humanas onde quer que as encontrasse, sujando-se da cabeça aos pés, morrendo nessa condição de louco sob a mais infame a abjeta miséria humana, fatos assistidos e testemunhados pelas pessoas da cidade. Parentes da desafortunada mulher que chegavam do Salvador, apenas informavam que na capital “o sapo estava sendo costurado a boca e o troco do malvado homem estava sendo providenciado”. Acredita-se que fizeram bruxarias para o jagunço. A mulher, lá em Salvador, terminou por casar dando luz a uma menina que se tornou uma das mulheres mais belas que, por ironia da vida, casou-se com um cidadão de Itiúba. Era de uma beleza estonteante que refletia o que a sua mãe houvera sido. Não dou o nome para preservar imagens.

Antes de dar um banho de fezes no próximo, melhor seria olharmos para dentro de nós mesmos. Abaixo do céu e acima da terra, certamente existem coisas que a nossa vã filosofia é incapaz de explicar. Nem tudo que pensamos, sabemos! 

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