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A Procissão

CRENÇAS, RELIGIÕES E SUPERTIÇÕES
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

A Procissão

 

Toda sexta-feira Santa, havia uma procissão. Os religiosos se reuniam no Largo da Igreja logo cedo e, às 9 horas, saiam em procissão pelas ruas da cidade. Naquele dia, era proibido tocar os sinos e a convocação dos fiéis para o ato religioso era feita pelo sacristão, que sacudia um instrumento de madeira chamado matraca. Esse instrumento fazia um barulho seco, mas que podia ser ouvido em locais bem distantes. Os fiéis caminhavam lentamente em duas fileiras e, entre uma e outra, ficavam os andores, onde os santos eram carregados. Na frente, ia uma pessoa erguendo uma alta, porém leve cruz de madeira. Logo atrás vinham o padre e as mulheres do coro da igreja, cantando e rezando. Existiam algumas paradas no percurso, em algumas casas de residências, para orações, leitura de mensagens e, principalmente, para uma rápida representação do sofrimento de Maria, mãe de Jesus, feita todos os anos pela jovem Onélia Campos. Ela mostrava uma toalha com a gravura de Jesus com a coroa de espinhos na cabeça e cantava uma música sacra muito bonita. Após percorrer as principais ruas da cidade, a procissão retornava ao Largo da Igreja, umas duas horas depois da saída.

Era proibida a venda de bebidas alcoólicas na sexta-feira Santa, mas alguns donos de bares abriam sempre uma portinha para atender os bebedores de vinho. Uma vez, eu e o Egui entramos lá e exageramos no consumo do vinho. Quando saímos, eu peguei minha bicicleta e o Egui sentou na garupa. Quando chegamos próximo aos jardins da Avenida Getúlio Vargas, a procissão apareceu de repente a nossa frente. O Egui disse:

– Fernando, faça a volta, pois no estado em que nos encontramos não devemos passar perto da procissão para não sermos censurados pelos religiosos.

Eu concordei e procurei retornar, mas o pior aconteceu. A bicicleta derrapou e nós caímos na frente da procissão. O cheiro do vinho tomou conta do ar...

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