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A Igreja Matriz de Itiúba

CRENÇAS, RELIGIÕES E SUPERTIÇÕES
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

A Igreja Matriz de Itiúba

 

O povoamento de Itiúba começou quando os primeiros portugueses, oriundos da Casa da Torre, chegaram à Serra de Itiúba e por lá se estabeleceram. A Casa da Torre foi o embrião de um grande morgado, no estilo feudal, que se iniciou na capitania da Bahia ainda no século XVI e que, durante 250 anos, expandiu-se ao longo das gerações dos seus senhores por mais de 400 léguas na Região Nordeste do Brasil. Como era costume na época, logo construíram a Capela São Gonçalo do Amarante para a devoção dos seus familiares e para doutrinar os poucos indígenas que lá permaneceram depois da chegada dos novos “donos” das terras.

Logo abaixo, no sopé da Serra de Itiúba, havia a Fazenda Salgado, pertencente ao Sr. João Gomes da Silva, onde, mais tarde, formou-se o povoado que originou a cidade de Itiúba atual. O processo de povoação foi acelerado com a chegada dos trilhos da estrada de ferro em 1887. A primeira casa lá construída por volta do ano de 1870, permanece de pé e bem conservada, bonita e habitada até hoje, apesar dos seus quase 140 anos de existência, graças aos cuidados dos descendentes de D. Yaiá Bebé.

Na nova povoação, no período de 1880/1890, foi construído o prédio da Igreja Católica, pequeno e sem muitas acomodações, porém, suficiente para a pequena população do povoado recém-formado. O templo recebeu o seu primeiro pároco, Padre Firmino de Souza Estrela, em 1886. Com pequenos e esporádicos melhoramentos, assim permaneceu até 1936, quando foi realizada uma grande reforma e a igreja passou a ter a aparência que hoje conhecemos e admiramos. Graça a experiência adquirida em várias construções próprias, o Sr. José Feliz Cruz, próspero comerciante, foi o escolhido para chefiar as obras da reforma. Isso aconteceu um ano após a elevação da Vila de Itiúba à categoria de cidade, desmembrando-se de Queimadas. O Sr. Belarmino Pinto de Azeredo era o Prefeito nomeado do novo município.

Algumas pequenas reformas foram feitas mais recentemente e podemos destacar a conclusão do coro alto, já previsto no projeto inicial e a construção, ao lado, de um anexo ou sacristia, onde são guardados os paramentos sacerdotais e as alfaias litúrgicas, sendo, também, o local onde os sacerdotes se paramentam para realizarem as missas.

Para encerrar transcreverei relatos pertinentes, extraídos de textos escritos por itiubenses e publicados neste site:

  • “Em Itiúba, até a década de 1960, a Sexta-feira Santa ou sexta-feira da Paixão era tão respeitada pela população local que nesse dia, praticamente nada funcionava na cidade. O comércio não abria as portas, nem mesmo a única farmácia de D. Ziru; os trens não apitavam, os carros não buzinavam, os sinos da igreja, da estação férrea e do cemitério não badalavam, ninguém, nem mesmo os vaqueiros ousavam usar qualquer montaria, não se ordenava o gado para tirar o leite, não era queimado qualquer categoria de fogos de artifícios, os serviços de alto-falantes da Rádio Cultural e do Cine Itiúba ficavam mudos e, embora a filarmônica 2 de julho acompanhasse a tradicional procissão com todos os seus músicos fardados e com seus instrumentos musicais, desfilava em silêncio em respeito ao Senhor Morto. Nesse dia, todas as crianças eram levadas às casas de seus padrinhos para pedir suas bênçãos.” (Hugo P. Carvalho).
  • “Durante os 40 dias de quaresma que antecedem a 6ª Feira da Paixão, Itiúba se transformava em um verdadeiro templo ao ar livre, as missas eram celebradas diariamente, sempre as 19 horas, com a presença maciça daquele povo fiel a Deus. O sino da Igreja parava de badalar anunciando a realização da santa missa e as matracas tomavam o seu lugar, sinal de respeito naquele período tão sublime. Os trens que chegavam na estação, já não mais apitavam, os poucos veículos também paravam de buzinar e grande parte da população também não se alimentava de carne. Os mais humildes compravam seus pescados, vindos dos açudes do Coité e de Camandaroba, na feira livre e os mais abastados, compravam o famoso bacalhau norueguês, na sortida barraca do Abelinho do Alto, instalada bem em frente ao saudoso “Bar Central”.
  • Na 6ª Feira da Paixão, uma multidão, capitaneada pelo vigário da Paróquia, se reunia no largo da Matriz e depois seguia a Via Sacra, lembrando as 15 estações, começando com a condenação à morte, até chegar o momento da ressurreição de Jesus Cristo. As católicas mais fervorosas, colocavam em frente as suas casas, uma pequena mesa, decorada com a imagem de Jesus Cristo, e em cada estação a multidão parava, para ouvir o “Canto de Verônica”, interpretado por Onélia Campos, que com sua belíssima voz, comovia a todos nós, itiubenses da Gema.” (Antônio Ricardo Benevides) “No meu tempo era assim, tinha que ter roupa e sapato novo para ir à igreja e a procissão, afinal de contas era o dia da Padroeira da cidade, a Imaculada Conceição Maria Santíssima, uma festa muito importante para a igreja católica e marcava o início do ano litúrgico, uma das principais festas que antecedem o Natal. Tenho boas lembranças daquela época. Era armado um Parque de Diversões na Praça Nova, barraquinhas de palha com um pequeno balcão vendendo guloseimas, bebidas, etc., no largo da igreja e adjacências, outras servindo de prisões para prender as namoradas e os namorados que tinham que pagar uma pequena importância para a sua liberação, bancas de jogos de azar como roletas e bingos. A nossa Rádio Cultural tocava músicas românticas, para embalar os corações apaixonados. Tudo isso se passava nos dias que antecediam a festa e, com mais ênfase, no próprio dia 8, a data maior. Não sei se atualmente ainda é assim. Lembro-me que no decorrer da procissão o andor com Nossa Senhora, a todo o momento passava de um ombro para outro. Qual era o devoto que não queria ter o prazer de carregar a Santa no ombro? Outros saiam de onde estavam e faziam questão de tocar no andor e se benzer, era um motivo para agradecer e pedir proteção em simultâneo. A data era muito significativa para nossa Itiúba, pela própria festa, como também era um bom motivo para os seus filhos visitarem parentes e amigos na boa terra” (Valmir Simões). No site tem outros textos sobre o assunto, como um que conta a história da polêmica colocação - quando ainda não existiam repetidoras de sinal - de uma antena de TV no alto da torre da igreja, ao lado da cruz, com autorização do vigário, um ato que foi alvo de muitos protestos daqueles que o consideraram desrespeitoso, contudo, nenhum sinal foi captado e a antena foi retirada logo no dia seguinte, para alívio dos descontentes e tristeza daqueles que sonhavam com uma diversão a mais nas noites itiubenses.
  • Para não tornar este texto muito extenso, vou parando por aqui.
  • Nota do Autor - O texto acima é o resultado da coleta de informações em trabalhos publicados pelos itiubenses Hugo P. Carvalho, Antônio Ricardo Benevides e Valmir Simões neste site.                       

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