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O Homem da Pederneira
COMPORTAMENTO
Autor: Max Brandão Cirne
Não me recordo exatamente o ano. Acho que foi lá pelo ano de 1960. Sei que já se esfumou no tempo e no espaço. Era eu um garoto tomando conta da “venda”, assim era chamado o armazém de secos e molhados dos meus pais, lá nos sertões da Bahia, numa cidade chamada Itiúba. De repente entra no estabelecimento um homem de meia-idade, vestindo uma capa colonial, chape de feltro e botas caipiras. Aproximou-se e pediu uma jurubeba leão do norte. Servi-o enquanto ele a sorveu com sofreguidão e sede. Pagou. Parou e retirou do bolso um charuto e um instrumento rudimentar acondicionado num pequeno pedaço de chifre de animal. Lembro-me de que tinha no fundo do instrumento um algodão amarelo e encardido, chamuscado e bastante usado. Aquele homem apanhou no mesmo bolso dois pedaços de seixos rolados e começo a bater um no outro poucas vezes. Tinha ele muita prática, e, assim, de repente, a faísca inflamou o chumaço pequeno de algodão. Ele soprou rapidamente e fez-se fogo. Acendeu o charuto. Pagou a bebida, agradeceu-me, despediu-se e desapareceu na bruma do meu tempo.
Jamais o esqueci. Parecia saído da idade da pedra lascada. Bizarro, aquele senhor deixou-me a impressão de estar vivendo em um mundo seu, o qual se apegara e não conseguia emergir. Podia pedir-me uma caixa de fósforos, acender seu charuto e devolver-me, ou simplesmente podia comprar uma. Não o fez. O homem da pedra lascada, ou polida, ou nas trevas do seu tempo particularizado deixou-me uma ideia do quanto o homem pode adaptar-se e permanecer independente da sociedade e do progresso da ciência.
Nunca mais o vi. Era um forasteiro. Ou uma mera ficção da vida!!! Assombração, não foi!
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