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Irmãos Gêmeos

COMPORTAMENTO
Autor: Valmir Simões

Irmãos Gêmeos

 

Na cidade de Itiúba, naquela época, não existiam gêmeos com tanta semelhança como meu pai José Simões e o meu tio Juca. Filhos de tradicional família local, por toda a vida atuaram no ramo do comércio, com armazéns de secos e molhados. 

 

Meu pai era uma pessoa muito festeira e para comemorar o dia de Cosme e Damião contratava sanfoneiro, distribuía muitas balas à garotada, dava licor de jurema para aqueles que iam a sua casa comercial. Era só alegria cada dia 27 de setembro. Já meu tio Juca era muito recatado, ficava quieto no seu armazém e não gostava de comemorações e de festas. Era uma pessoa séria que não gostava de muita conversa. Sua casa comercial ficava próxima da estação ferroviária, enquanto a do meu pai ficava junto do cinema local, bem no centro da cidade. 

 

Casos muito engraçados ocorreram em razão das pessoas não distinguirem um do outro com facilidade. Até eu que era filho de um deles, quando garotinho tomava a benção ao meu tio pensando que fosse o meu pai. Depois passei a fazer a distinção observando a roupa que meu pai usava quando saia de casa. 

 

Os viajantes vendiam mercadorias ao meu tio Juca, na Rua da Estação e quando chegavam ao estabelecimento do meu pai no centro da cidade diziam: - Rapaz, você trocou de roupa rápido e chegou a sua outra venda primeiro do que eu e nem vi você passar por mim! Meu pai sorria sempre e dizia: - O outro é meu irmão gêmeo, parecemos um com o outro e isso confunde muita gente. 

 

Ambos tinham alguns “tics-tics” nervosos ou sestros. Às vezes, ao atender os fregueses cheiravam as mercadorias, davam dois tapas nas pernas e batiam um dos pés com força no chão. Quem não conhecia os sestros deles ficava espantado. Certo dia meu tio Juca foi atender um freguês e ao vender um sabonete e uma pasta dental, como fazia sempre, cheirou as mercadorias, deu dois tapas na perna e bateu um pé com força no chão. Quando procurou o freguês, viu apenas ele correndo assustado, em direção à estação ferroviária. Para acalmar o freguês, que já estava “com o coração para sair pela boca”, foi necessária a intervenção do Sr. João Martins, guarda-linhas da ferrovia, que teve dificuldades para convencê-lo de que aquilo era uma coisa natural, apenas um sestro.

Este caso foi-me relatado pelo próprio tio Juca, morrendo de rir da carreira do cara.



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