ÍNDICES
-AÇUDES, RIOS, RIACHOS, TANQUES E CACIMBAS
-ADMINISTRAÇÃO E AUTORIDADES MUNICIPAIS
-APARELHOS, INSTRUMENTOS E UTENSÍLIOS
-BAIRROS, RUAS, PRAÇAS E LADEIREAS
-CASARÕES E PRÉDIOS HISTÓRICOS
-CIRCOS E PARQUES DE DIVERSÕES
-CLUBES, BANDAS E FILARMÔNICAS
-CRENÇAS, RELIGIÕES E SUPERTIÇÕES
-ESTABELECIMENTOS E EMPREENDIMENTOS COMERCIAIS
-ESTRADA DE FERRO, ESTAÇÃO, TRENS
-FENÔMENOS E CATÁSTROFES NATURAIS
-ORIGENS, HISTÓRIA E PROGRESSO
-PERSONAGENS POPULARES E COMUNS
Blog
A Banda Bolachinha
CLUBES, BANDAS E FILARMÔNICAS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho
Banda de Música que não faça parte das corporações militares sempre é gratificada com nome pitoresco e carinhoso. Em Itiúba, no início do século passado, foram criadas duas Bandas. A primeira, que tinha como patrono o Cel. Aristides Simões, fundada em 1915, ganhou o nome de FILARMÔNICA 8 DE DEZEMBRO, em homenagem a N.S. da Conceição, Padroeira da Cidade. A segunda chegou, em 1924, com o nome de SOCIEDADE UNIÃO 2 DE JULHO e nasceu pelas mãos da oposição política formada pela Cel. João Antônio e seus aliados Belarmino, Manoel, Benedito, Jerônimo, Mindô, Anfilófio Pinto, Manoel Barbosa, Rogério Bento Pitanga, João Avelino, João Clímaco, Elísio Ferreira, José Cruz, Filadelfo Damasceno, João do Prado, Almiro, Joviniano Carvalho, Manoel Carvalho e outros. Como se nota, as duas eram rivais em tudo. Quando uma saia pelas ruas, logo em seguida a outra partia para a praça. Muitas vezes o encontro das duas terminava numa disputa musical saudável e bela para deleite dos moradores que quase não tinham diversão pública.
Tudo explicado até aqui é para chegar aos dias atuais. Itiúba hoje tem só a Banda de Música Bolachinha. Dos dois prédios construídos para as antigas filarmônicas e suas festas dançantes resta um que se transformou numa entidade sem donos. Sem Quadro de Sócios para fiscalizar o abandono visível. Assumiu a triste categoria de “esmoler”: promove festas dançantes para arrecadar uns trocados na base do pagou entrou. Nada que possa honrar a memória dos pioneiros das famílias: Simões, Freitas, Pimentel, Sampaio, Pinto, Silva, Pitanga, Azeredo, Carvalho, Alves, Pires, Dantas, Gonçalves, Avelino, França, Matos, Bispo, Mendonça, Castro, Moura, Cruz, Minervino, Borges, Cerqueira, Vilas-Boas, Martins, Porto, Ventura, Benevides, Souza, Batista, Leite, Damasceno, Castro, Matos, Mendonça, Ferreira, Carvalhal, Barbosa, Rios, Valadares, Brandão, Cirne, Barreto, Oliveira, Rafael e muitas outras, que mesmo quando adversários comungam o bem comum. Por que hoje restou o nome “BOLACHINHA”? Para responder a esta pergunta recorremos ao Maestro Evilásio. Ele começou informando que surgiram duas expressões na mesma época: “Bolachinha” e “Boca-mole” e continuou dizendo que sempre à frente da Banda da 2 de Julho saiam os caciques engravatados que determinavam para onde a Filarmônica seguiria. O Maestro de então era o Sr. Marcelino Santos, conhecido como Bugué, que vinha enfrentando forte pressão para criar uma Escola de Música. Sem tempo para comandar a Banda e, ao mesmo tempo, ensinar, pois, também, era funcionário da Rede Federal Leste Brasileiro, protelou o que pôde. Paralelamente um músico se destacava e passou a incomodar os “mandachuvas” da Diretoria. Assim, o Evilásio montou a sua modesta Escola de Música. Não sei, mas já fui perguntado pela razão da Câmara de Vereadores, tão boa de discursos, não ter agraciado este batalhador como uma Moção de Reconhecimento e Aplausos. Devem ter trabalho demais. Sugiro que a Banda de Música tenha vida própria como pessoa jurídica para poder ser reconhecida como de utilidade pública e obter registro no Ministério da Cultura, o que permitiria gozar dos incentivos fiscais disponíveis nos planos estadual e federal. Voltando a narrativa do Evilásio. Ele disse que atrasou alguns minutos para um ensaio na Sociedade 2 de julho. Quando tentou justificar o Maestro Bugué achou que ele se tornara adversário e falou: - não precisa vir mais. Daí, sem instrumentos para continuar, procurou nos municípios de Queimadas e Senhor do Bonfim quem pudesse ajudar nesta nova etapa. Contou de imediato com o apoio da Filarmônica dos Ferroviários de Senhor do Bonfim, que além de emprestar os instrumentos ajudou cedendo músicos. Este trabalho visava à tocata do dia 8 de Dezembro. Faltavam três meses para o dia de glória e este batalhador sair à rua com a sua Banda. Precisava ensaiar os dobrados, como também ensinar os músicos a marchar na cadência exigida pelo ritmo do dobrado musical. Os seus músicos eram neófitos em tudo. Era a primeira vez que tocavam sob a regência do Evilásio e a primeira vez que teriam de obedecer à ordem unida de uma Banda. Quando se espalhou pela cidade que Itiúba teria no dia da sua Padroeira duas Bandas tocando, muitos incentivaram os dois Maestros. Mas, o Maestro Bugué sabendo das dificuldades que ele enfrentava, sentenciou: - Visto uma saia no dia que o Evilásio botar na Igreja sua BOLACHINHA. Não só tocou como fez alvorada no dia consagrado a N.S. da Conceição. Milagre, disse seu Piroquinha Mendonça que cobrou a promessa do Maestro Bugué de vestir saia. Ele não vestiu e até hoje a Bolachinha toca seus lamentos como que recordando o ocorrido. Com este feito o Prefeito Virgílio Rodrigues doou o fardamento completo e assim o nome Bolachinha nunca desapareceu. Hoje é pronunciado como carinho e não com o significado inicial de coisa sem valor. Acrescentou o Evilásio que ao receber o pano para as fardas procurou o Alfaiate Quitu que garantiu as confecções e o prazo. Diz também que um determinado “mangangão” que se considerava dono da Sociedade 2 de Julho e da sua Banda de Música, tudo fez para impedir os preparativos e a vitória da Bolachinha, chegando ao ponto de procurar o Quitu e ponderar que ele estava trabalhando para os seus adversários políticos. Respondeu então o bravo Alfaiate: - quem trouxe todo material para as fardas foi o Evilásio e não o Coca, irmão do Prefeito. Cumpriu tudo que prometeu e a Banda Bolachinha está até hoje cumprindo o seu papel em Itiúba. Recorda o Maestro Evilásio: - a primeira tocata em 1963 contou com os músicos: Nilson e Nam no Saxofone, Egui, Huguinho e Verdinho no trompete, Evilásio e Dandu no trombone, Élson na clarineta, Raimundão no Contrabaixo, Vadinho na trompa, Zé do Banjo na bateria, Buião do Dedeu no Bombo, Zenóbio e Múrcio na caixa, Jipe nos pratos. Por que o apelido de Boca-Mole do Maestro Evilásio? Ele explica que tudo não passou de uma brincadeira entre ele e o Huguinho quando este era aprendiz de trompete. Na época passou um filme que o mestre exigia do aluno fôlego forte e notas limpas. Porém, o coitado não conseguia e assim proferiu o diagnóstico: - Você é um “boca-mole”. Com este lema adotado pelo Maestro Evilásio como exemplo, seu trabalho, sua dedicação está aí para demonstrar que vale melhor vontade e persistência que conversa jogada da boca para fora.
Muitas fazem, poucos falam bem no intuito de resgatar manifestações culturais, com ou sem contornos cívicos. Certo seria discutir as características, as valorizações e preservações das filarmônicas no Município como atividades artísticas, principalmente, na nossa cidade com sua tradição. Os jovens não contam com qualquer programa para distração coletiva. Ou se encara agora o problema ou, com certeza, veremos o fim da gloriosa BOLACHINHA. É sabido que uma Bolachinha não vai resolver, porém, tudo que é certo sempre dependeu da Paz ou atitudes extremas do grito de todos nós unidos nesses momentos decisivos.
Navegação
IR PARA O ÍNDICE DAS CRÔNICAS CLUBES, BANDAS E FILARMÔNICAS
Comentários
(0) Comentários...