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O Cinema de Itiúba
CINEMA
Autor: Max Brandão Cirne
Dia de domingo costumava ir até o Adro do São Gonçalo do Amarante em visita a alguns amigos. Visitava todas às vezes, o enorme templo na pracinha, paredes rudes, grossas e seculares, testemunhas vivas de um passado de mando e desmando da religião, da imposição e da intolerância.
Já defendi a tese sem ouvintes, de que a cidade de Itiúba não adveio da Fazenda Salgada pertencente à Dona Bebé, como ensinaram as nossas crianças, mas nasceu no Adro que era o lugar para onde convergiam as pessoas e as posses.
O Adro era recôndito plantado qual sentinela lá nas alturas da Serra da Itiúba, acidente geográfico com tal nome, referida na obra de Euclides da Cunha, em Os Sertões, desconhecido de muitos, daí outra dúvida que me plantaram no cérebro, mais hodiernamente, quando passaram a afirmar que Itiúba significa “Abelha Dourada”. Discordo sem conhecimento de causa, mas fato é que aprendemos que Itiúba significa “Pedra Montada”, segundo os eruditos, herança do Tupi-Guarani que deveria ser a língua falada pelo brasileiro, versão que recebe toda a propensão do escriba.
Lá, passava o dia todinho naquele clima fenomenal, retornando no lombo dos animais, na “boquinha da noite” como se dizia naqueles arredores, com o coração impregnado de um desejo que era ir assistir ao filme no cinema do Bertinho. Era uma festa. Custava a entrada apenas dez tostões. Tinha ainda, toda aquela operação de convencimento do pai que enviava naquele jogo de empurra, para a minha mãe, que me mandava de volta ao pai, até que, finalmente, sob resmungos, mamãe liberava o dinheiro que era a entrada do cinema do Bertinho. Não era pouca coisa não!
Às vezes descia de casa em desabalada carreira. Chegava muitas vezes, quando o prefixo que era tocado antes da exibição, já se iniciara que não me sai da cabeça até hoje, luzes apagadas e a turba aguardando o início do filme. A molecada assoviando feita louca. Eu nunca assoviei. Gostava de silêncio e concentração.
Tempos idos e saudosos. Ainda outro dia o Bertinho mandou-me, de cortesia, um CD intitulado ERA UMA VEZ NO CINE ITIÚBA que quase me mata de chorar de saudades, com os grandes astros, o prefixo do cinema, as trilhas sonoras inesquecíveis e inapagáveis, coisa para quem tem coração de aço. E eu confesso com sinceridade, não sei se serei mais capaz de assistir os CDs. Muitos astros idos e pouquíssimos vivos, que aprendemos a ver nas telas e a vibrar por eles. Monstros sagrados que se plantaram nos nossos corações e nas reminiscências inapagáveis de um tempo que teimosamente continua a desparecer na linha tênue do horizonte mortal.
Era uma vez um cinema que não sai das recordações que testemunhou parte da história da cidade de Itiúba.
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