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Filmes para Homens
CINEMA
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

O Cine-Itiúba era um lugar peculiar, desses que guardam histórias que só o tempo e a memória conseguem preservar. Poucas vezes, quase como um evento raro, exibiu filmes que chamavam de “Só para Homens”. Não eram muitos comuns na época, e talvez por isso mesmo carregassem um ar de mistério e proibição que atiçava a curiosidade de todos – especialmente a minha e a do meu amigo Manoel Carlos.
Nós dois éramos menores de idade, mas isso nunca foi um grande obstáculo. O cinema era do meu irmão, e essa conexão familiar nos dava acesso privilegiado às suas entranhas. Nossa estratégia era simples: nos escondíamos na sala das máquinas de exibição, um espaço elevado e isolado, onde podíamos assistir às sessões proibidas sem sermos notados. Era como se estivéssemos em uma fortaleza secreta, observando o mundo lá embaixo.
O Delegado, figura imponente e sempre presente, não perdia uma única sessão desses filmes. Ele fazia questão de anunciar, com voz grave e postura séria, que estava ali para “manter a ordem e impedir a entrada de menores de idade”. Mas, curiosamente, permanecia até o último minuto da exibição, como se sua missão de vigilância exigisse atenção total. Para nós, isso significava um desafio extra: assistir ao filme em silêncio absoluto e só sair do cinema depois que o delegado fosse embora. Era uma espera tensa, mas também parte da aventura.
Os filmes, é verdade, não eram grande coisa. A produção era tosca, a imagem péssima, e o enredo... bem, quem se importava com o enredo? O público, composto exclusivamente por homens, parecia mais interessado no sigilo do que na qualidade. Eles usavam de todos os artifícios para entrar no cinema sem serem reconhecidos por quem passava na rua. Chapéus puxados até as sobrancelhas, lenços cobrindo o rosto – era quase uma cena de filme de espionagem.
Hoje, olhando para trás, não consigo evitar um sorriso ao lembrar dessas sessões clandestinas. O Cine-Itiúba, com suas histórias e personagens, era mais do que um cinema. Era um palco onde a vida acontecia, com suas pequenas transgressões e grandes memórias. E, no fundo, acho que até o Delegado sabia disso.
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