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Os Tempos Mudam e o Carnaval Também

CARNAVAL
Autor: Egnaldo Paixão

Os Tempos Mudam e o Carnaval Também

           

Estou convicto de que o carnaval de Itiúba, nasceu da vontade do povo e tudo começou quando a nossa terra era ainda um simples arraial sem brilho.   Não conheço fontes fidedignas afirmando quando exatamente ocorreu a primeira festa de momo. Mas, a intuição me diz que foi a partir da formação das filarmônicas, uma, em 1915, por aí, a 8 de dezembro e a outra, em 1924, a 2 de julho, que os blocos carnavalescos começaram a acontecer com mais nitidez, através dos desfiles de rua, como faziam os Bambas, e dos bailes noturnos que ganharam forças nas duas sociedades, as quais, em razão da rivalidade política que predominava entre elas, tinham os seus foliões separados. Por exemplo, quem pertencia ao grupo do Cel. Aristides Simões não frequentava os bailes do grupo liderado pelo Cel. João Antônio e vice-versa. Algum tempo depois, a Sociedade 8 de Dezembro encerrou suas atividades e as famílias rivais, então, passaram a frequentar os bailes da 2 de Julho, mas, sem esquecerem, entre si, o ranço que as dominava, fato que gerou muito desentendimento entre os foliões, sempre após a ingestão, em demasia, de alguns bons goles de whisky, que não podia deixar de existir nessas ocasiões momescas.  

Os bailes da Sociedade Recreativa e Cultural União  2 de Julho primavam pela beleza das fantasias. Arlequins, pierrôs e colombinas enchiam o ringue que, a partir dos anos 50, era ao ar livre.   Aquela década de 1950, foi também  o tempo das plumas e paetês, do lança-perfume e das serpentinas e do jazz carnavalesco, que tinha o som aumentado apenas por uma ou duas bocas de alto-falantes e um microfone para o cantor.   Aquele foi o tempo das lindas marchinhas, Lourinha, Pierrô Apaixonado, Pirata da Perna de Pau, tantas, tantas. Foi a época também do frevo para esquentar o salão, e sempre se tocava o Vassourinha, Fogão, Come e Dorme e outros. A Sociedade Recreativa e Cultural União 2 de Julho, nessa época, era um clube muito fechado, em que, somente os sócios e familiares destes o frequentavam. Convidado, só apresentado por algum sócio e o seu ingresso ficava à mercê de aprovação prévia da diretoria. Quem não tinha acesso, às vezes ficava assistindo aos bailes no sereno, nos últimos anos, através da imensa parede da casa de Humberto Pinto de Carvalho.   Entretanto, os ferroviários itiubenses, na liderança de João Martins, criaram também seu espaço, aberto aos mais pobres, digamos, ao povão. Festa animada e bem organizada.   Durante o dia, se fazia o verdadeiro carnaval de ninguém e de todos. Os músicos da cidade saiam animando as pessoas, abastadas e pobres, que iam se juntando na praça, normalmente em frente ao Clube 2 de Julho, mascarados, uns, fantasiados, outros, de cara limpa, a maioria, e de lá partiam, por volta das 10h das manhãs de carnaval, pelas casas, pelos bares, pelas ruas. As “caretas” usavam chibatas para correr atrás dos meninos.

Berega, Paôco, Paulinão, Nego Freje Banha, como vocês meteram medo na molecada de antigamente. Artur Teixeira, Teia, vocês costumavam sair de “mulheres”, e quanto mais ficavam desengonçadas, espalhafatosas, surrealistas, criativas, mais alegria espalhavam pela praça. A Jaraguá, a Mulinha, o Bumba Meu Boi, eram, do mesmo modo, manifestações folclóricas que não podiam faltar no carnaval de rua.   E aquele exuberante carnaval de 1955, onde, de um lado, sobressaíram, a inteligência criativa de Antônio Simões Valadares e seus carros alegóricos belíssimos, ricos, pomposos, desfilando pelas ruas da cidade, e do outro, a Mulinha, a Jaraguá, O Boi da Tapera, os Caretas, os Palhaços, os visitantes, o povo...   Ah! Parece até que foi uma despedida dos velhos carnavais de Itiúba, feitos com poesia, beleza e sensibilidade...   Ah! Os velhos carnavais que não voltam mais.   Os tempos mudaram e o carnaval também        

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