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As Pílulas

CARNAVAL
Autor: Valmir Simões

As Pílulas

 

Num dia de carnaval em Itiúba, o depósito do Valadares foi ornamentado internamente com bandeirolas coloridas e na parte do fundo colocaram um palanque, onde os músicos iriam ficar, em um dos lados do salão, uma área reservada por um grande cercado de tábuas enfeitadas de palha de ouricuri, junto a uma das portas um corredor estreito feito de engradados com espaço que só dava para passar uma pessoa de cada vez após o pagamento do ingresso. A coordenação era do João Martins que não fazia nenhuma seleção dos participantes, como fazia a Sociedade 2 de Julho. Lá era “pagou entrou”. No seu interior era uma “cachaçada” infernal. Sanitário não existia e, para satisfazer as necessidades, o frequentador saia da festa e, no beco entre o depósito e o Tanque da Nação, procurava se “desapertar” de qualquer maneira. Na saída falava com o porteiro: - Vou aqui fora me “desapertar” e já volto. O controle de entrada e saída, a partir daquele instante, deixava de existir. 

 

Lá chegando com meu amigo Pedrinho Capitão, ficamos em um dos cantos do depósito observando o movimento e na esperança de conseguir pegar alguma “figura”. Trouxe da minha residência um tubinho de vidro com umas bolinhas cor de rosa chamadas de Pílulas de Vida do Dr. Ross, remédio indicado para prisão de ventre. Na época se falava muito em bolinhas que o cara tomava e ficava loucão, para aguentar o tranco do carnaval. Fiquei com o vidrinho do tal remédio no bolso e o Pedrinho me disse: - Vamos pegar um abestalhado com essas pílulas. Nisso chegou junto a nós o Dazo Grande e dissemos: - Rapaz estamos com um vidro de bolinhas que deixam o cara loucão para brincar a noite toda sem se cansar. Ele foi logo dizendo: - Arranja-me umas duas que estou precisando. Em vez de duas despejamos umas quatro, ele engoliu e se meteu logo no salão no meio da galera que pulava sem parar. De longe ficamos apreciando o seu desempenho. Uns quinze minutos depois ele apareceu com o Té, filho do Hermelino, pedindo que a gente desse a ele também. E assim fizemos. O próprio Dazo aproveitou e engoliu mais duas. Pouco tempo depois os dois passaram por nós, rápidos como uma bala, dando gritos estridentes e dizendo: - Tô loucão! Tô Loucão! Tô Loucão! Vendo aquilo, fomos saindo “de fininho” da festa.

 

No outro dia eles nos procuraram e disseram que não aguentavam mais e que estavam com as pernas “bambas” de tanto irem ao sanitário e que não tinham mais o que botar prá fora.

 

Ninguém soube deste caso, guardamos o segredo com sete chaves, com receio de cair na porrada por um deles.

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