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Arraias ou Pipas

BRINCADEIRAS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho

Arraias ou Pipas

 

Beleza, encantamento, lendas, símbolo e mito são algumas palavras que descrevem este objeto voador preso numa linha e com poderes para libertar a imaginação de homens, mulheres e crianças do meu tempo.

É assim que lembro das “arraias” empinadas na nossa Itiúba que por sua localização entre serras com altura média de quinhentos metros favorece as correntes de ar ascendentes. Todos os brinquedos têm seus momentos históricos. As pipas, papagaios, periquitos, conforme conhecidos em outras paragens, vêm de séculos. Foram usadas como instrumento de defesa e arma ao mesmo tempo. Desapareceram dos céus itiubenses e surgiram nas praias com suas acrobacias e de vários tamanhos e cores. Hoje um espetáculo a beira-mar.

Com sucesso relativo, nossa geração aplicava suas manobras na disputa para ver quem melhor ocuparia o espaço no céu azul das caatingas. Poetas já afirmaram que uma pipa no ar é a extensão natural das mãos dos meninos, tentando imitar os anjos. São compostas de papel, varetas leves coladas em X. Nas quatro pontas é presa uma linha, que encontra outra vindo do centro do X e completa a “chave”. Vem depois à cauda ou rabo feito de tiras de panos, ou cordão grosso e leve. Este penduricalho, como um pêndulo, equilibra a arraia no ar. Para empinar o condutor escolhe linha limpa ou temperada. Limpa é sem truques. Temperada é envolta com goma com pó de vidro para cortar a linha do adversário e sentir o prazer de ver o outro perder seu brinquedo. É uma atitude descompromissada, que exige paciência e planejamento. Os craques neste assunto procuram dominar as correntes dos ventos e sua velocidade, preservando a pureza e simbologia que a arraia representa para eles. O adolescente que nunca empinou uma arraia, com certeza ainda não completou o seu estágio de felicidade plena como itiubense da gema. Nós somos filhos do tempo e cada um, a sua maneira, reflete uma época agitada por trás da história da nossa Terra.    

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