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O Osso Corredor
ALIMENTOS E BEBIDAS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho
Vou falar de um prato típico do nosso sertão que a maioria dos sessentões de hoje ainda guardam na memória o seu sabor e o cheiro do “pirão feito do osso corredor”. Sua receita mágica, transmitida de mãe para filha, é reconhecida nos quatro cantos e ninguém a rejeita. Vale para os esquecidos ou viciados em comida pré-cozida, enlatada ou dormida uma advertência importante. O osso continua disponível nos açougues itiubenses. Nada como refazer e reapresentar aos mais jovens este suculento e tradicional prato, aperfeiçoado por muitos anos nas cozinhas das vovós.
Os ingredientes são a farinha grossa de mandioca e o osso grande sem carne da perna do boi, partido ao meio, além de temperos a gosto. Tem que ser preparado em fogo baixo na panela de barro de boca larga, com água e sal. O osso tem que ficar com a ponta cortada para cima. Quando começar a escorrer a gordura do tutano se aumenta o volume da água até a quantidade desejada. Mexe na panela ainda no fogo este caldo quente com a farinha, tudo na medida certa ao jeito de ser, no fogão a lenha. Está pronto para “o lambe beiço”. Satisfaz qualquer paladar aguçado. Além de gostoso, é forte o bastante para suar e tem cheiro de “quero mais”. Pode ser comido (degustado é outra coisa...) sem ganância e com muita disposição até se empanzinar, cheio de sustança. Em nome da tradição fica esclarecido que pirão não é angu. Pirão é preparado com farinha de mandioca. Angu é feito de fubá de milho. Pode ser o clima quente, que exige comidas simples e não é por acaso que a natureza nos legou o dom do aprendizado do bom viver, mas, nesta hora, o pirão mostra o seu valor em qualquer tempo. Aboletado num banco de madeira de quatro pernas e com o prato no colo, bambo de fome e com vontade de comer até pedra, não vai refugar um petisco que desce goela abaixo para matar qualquer fome de herege ou cristão até dizer chega e logo esquecer as frescuras da gororoba da cidade.
Certa vez fui passar uns dias na Fazenda Saco do meu inesquecível amigo Ari. Lá, preparado no capricho, encontrei o melhor “pirão do osso corredor”. Nunca gostei de bebida alcoólica. Mesmo assim, entusiasmado com o prato, a minha frente, resolvi tomar “um dedinho” de cambriana. Comi tudo e dormi como um anjo por mais de oito horas seguidas. Depois comentaram que foi o álcool. Tenho certeza, foi a sustança do pirão, com carne seca desfiada. Sem exagero é refeição para lamber o prato. Sei que o estômago da maioria dos amigos daquela época não aguentará, pois, com tantos anos acostumados a almoçar arroz branco com bife à milanesa, vão se sentir empanturrados até ao olhar esta maravilha da culinária sertaneja. Contudo, tente preparar ao estilo leve, com caldo ralo, misturado com farinha de mesa, sem dispensar o “osso corredor”, que de quebra pode curar aquela insônia, quando for para a cama, após assistir à novela das nove. Diz um velho refrão “farinha pouca, o meu pirão primeiro”. Portanto, cuidado com este osso bom de gordura e duro de roer.
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