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O Boi de Minas

ALIMENTOS E BEBIDAS
Autor: Humberto Pinto de Carvalho

O Boi de Minas

 

Hoje encontramos comida quase pronta e perto de casa. Lá pelos idos de 1950, na região não havia nenhum frigorífico digno desse nome, para armazenar carne bovina. Logo surgiram as geladeiras a querosene, que revolucionaram os hábitos alimentares dos sertanejos itiubenses. Primeiro foram aposentadas as moringas de água, a carne na corda, a carne-de-sal-presa, ovos de quintal e outras iguarias chamadas perecíveis. Mas, quando apareceu a carne de boi congelada, empacotada e sem pelancas, a cozinha de cada residência passou a dispor, a qualquer momento, do ingrediente pronto para ir à panela. Um sucesso que durou pouco e marcou uma época que não é fácil de esquecer.

Aconteceu sem alarme, sem propaganda, porém, com um objetivo claro de derrotar, comercialmente, a novidade trazida de outro estado. Primeiro surgiram as conversas de orelha a orelha. Depois de porta a porta para desencadear o golpe final que culminou na redução drástica do consumo da carne bovina na redondeza.

Alguém comentou, na porta da Igreja, ao sair da missa dominical, que a apreciada carne vinha de Minas Gerais e que por lá os fazendeiros, para apressar a engorda do gado, aplicavam injeções de hormônios. O aumento do peso proporcionava grandes lucros e eles pouco estavam ligando para as funestas consequências advindas. Não houve comprovação das ocorrências. Entretanto, quase por milagre, as donas-de-casa e seus prováveis prejudicados esposos, engrossaram a corrente que fez com que sumisse dos açougues a dita cuja carne.

Há quem afirme que tudo não passava de boatos. Por razões desconhecidas, muitos machões perderam o bom desempenho na cama. Parecia um segredo bem guardado que, finalmente, chegava ao público em surdina, e afirmava que a carne do boi de Minas fazia com que o homem perdesse a barba e a mulher falasse grosso. Ele coitado, com voz fina e sem vigor masculino, não poderia manter o seu antigo papel de chefe incontestável do lar. E, assim, como chegou, desapareceu do mercado, como num passe de mágica. Ficaram, como não podiam deixar de ficar, seus efeitos, que deterioram por muito tempo os sólidos compromissos conjugais.

Nessas circunstâncias sempre aparece o boateiro que se encarrega de comentar que o boi de Minas não era e não fora o culpado pelo desinteresse sexual dos marmanjos. Deveria haver outros impedimentos. Mesmo assim, os contumazes “saltadores de cercas” aproveitaram do disparate divulgado e consolidaram seus encontros e desencontros fora do lar, na calada da noite.

Era praxe o Senhor Vigário da Paróquia não se envolver nessas questões, digamos, ocorridas no aconchego do lar. Mas, na salvaguarda do Mandamento que diz cresceis e multiplicais e notando que o assunto ficara tão sério, que, num sermão, usou e abusou das paródias para comentar e aconselhar os casais a abandonar o consumo da famigerada carne congelada, com o santo propósito de salvar o rebanho formado por homens e mulheres itiubenses, que, até certo ponto estavam conformados com a desdita.

Vamos apenas conjeturar, que o tal hormônio provocador das tristezas dos nossos antepassados, voltasse com nova onda de desânimos entre os jovens de hoje, grandes consumidores de sanduíche, batata frita e refrigerante. No primeiro aviso televisionado haveria o caos doméstico para conter a alegria daqueles que estão escondidos nos armários da vida e a consternação daqueles que alardeavam sua masculinidade. Que a áurea do bondoso padre proteja todos nós velhos e moços.

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