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Açude do Jenipapo II

AÇUDES, RIOS, RIACHOS, TANQUES E CACIMBAS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Açude do Jenipapo II

 

Açude do Jenipapo é uma pequena represa construída com pedras e cimento em 1921, localizada no norte da cidade de Itiúba, Bahia. Sua construção teve como objetivo mitigar a escassez de água que assolava a região devido às frequentes estiagens da época. No entanto, logo se tornou evidente que as águas do açude eram inadequadas para consumo humano devido ao alto teor de sal. Elas eram tão salgadas que não serviam nem mesmo para lavar roupas ou para uso em construções. Curiosamente, até alguns animais recusavam-se a bebê-las.

Por muitos anos, o açude permaneceu sem utilidade prática. No entanto, a partir da década de 1950, a população jovem começou a frequentá-lo como um local de lazer nos fins de semana. As pessoas nadavam, faziam passeios e piqueniques. Durante as chuvas de verão, o açude transbordava, criando cachoeiras sobre as pedras abaixo da barragem de concreto, o que aumentava sua atração.

Infelizmente, o destino do açude mudou novamente. Os esgotos da cidade passaram a ser despejados na bacia do açude, poluindo suas águas. Assim, o velho açude voltou à inércia e decadência total, transformando-se em um grande depósito de águas sujas e fétidas.

Curiosamente, o nome “Açude do Jenipapo” não tem relação direta com a presença de jenipapeiros na área. Na verdade, existem muitos umbuzeiros nas proximidades, oferecendo sombra e frutos deliciosos, o que torna o local bastante agradável. Para alguns, o nome mais apropriado seria “Açude do Umbu”.

Durante as fortes chuvas de verão, que geralmente ocorriam entre outubro e dezembro, o Açude do Coité, ao sul da cidade, enchia com as correntezas provenientes das altas serras da região de Itiúba. O riacho Coité, que também recebe esse nome, percorria mais de seis quilômetros até chegar ao Açude do Jenipapo, na zona norte. Esse trajeto, às vezes, levava dias para ser completado. Era um espetáculo bonito, com as águas preenchendo uma a uma as várias cacimbas existentes ao longo do caminho.

Com as chuvas, também surgia o fenômeno da multiplicação dos sapos, representando uma infinidade de espécies invadindo as ruas e casas. O riacho atravessava toda a cidade, tornando inevitável o encontro com esses animais. Além do incômodo de compartilhar as ruas com os sapos, a população ainda tinha que suportar o incessante coaxar desses batráquios por várias noites consecutivas.

Tanque do Meu Tonho, localizado próximo ao Açude do Jenipapo, unia-se a ele por meio de um pequeno canal natural que se formava apenas durante as chuvas intensas, quando o açude enchia. Próximo à barragem, no ponto mais profundo, havia um degrau de cimento com a inscrição do número 107, que acabou dando nome ao local. Muitos se divertiam mergulhando ali, competindo para ver quem conseguia ficar mais tempo debaixo d’água sentado no “107”. Além disso, a Pedra do Jove, um pouco mais afastada da barragem, era um local muito visitado por todos.

As lembranças daquele tempo são vívidas, especialmente dos domingos, quando o Açude recebia a visita de jovens e famílias inteiras que acampavam e passavam o dia lá. Poucas pessoas iam de carro; a maioria preferia ir a pé, algumas de bicicleta. Varas de pescar, tarrafas nos ombros e sorrisos estampados no rosto eram comuns. Afinal, era domingo, o dia de folga, o dia do Açude. 

(Observação: O texto acima é o resultado da fusão de 4 crônicas publicadas aqui, há algum tempo, escritas pelos colaboradores Valmir Simões, Hugo P. Carvalho e Fernando Pinto)

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